Combate à desinformação: o resgate do valor do jornalismo

Por Laura Mourão – 8° período de Jornalismo do UniBH

Desde seu surgimento, confiamos à imprensa a responsabilidade de divulgar notícias pelo mundo todo e de checar e comprovar a veracidade das informações que circulam. Assim, em meio a pandemia do novo coronavírus, não é muito difícil falar sobre a importância do papel da mídia para a sociedade.

As mídias tradicionais, como emissoras de rádio, TV e jornais impressos, reafirmaram seu papel de protagonistas na disseminação de informações confiáveis. O trabalho jornalístico incansável na cobertura da pandemia e seus impactos em todas as esferas da sociedade, feito por profissionais comprometidos com a fidelidade dos fatos e com o bem-estar coletivo, se tornaram uma vacina poderosa no combate à propagação da Covid-19.

Segundo levantamento feito pela Datafolha, dos dias 1 a 3 de abril de 2020, em relação à confiança nos meios de comunicação na divulgação de informações sobre o coronavírus, os programas jornalísticos na TV e os jornais impressos seguem como os mais confiáveis entre os meios pesquisados. Já as redes sociais online seguem como os meios menos confiáveis.

É justamente a veiculação de informações devidamente apuradas e checadas que representa um pilar para a população identificar as informações que não são confiá-veis e que estão, muitas vezes, nas mensagens que circulam pelos nossos celulares.

Ao trazer luz aos fatos, o jornalismo profissional contribui para que as autoridades públicas, em seus diversos níveis, sintam-se pressionadas a adotar, mais rápido, políticas públicas que possam atenuar os efeitos dessa pandemia. Para não faltar informação para a população, boa parte dela em isolamento, um exército de jorna-listas trabalha incansavelmente nas redações, ruas e hospitais, expondo-se ao risco de ser contaminado.

A esses profissionais, esse momento histórico trouxe não só uma rotina de trabalho mais pesada, mas também obstáculos para retratar, com impacto, os diferentes aspectos da crise sanitária. Com a pandemia da covid-19, o mundo inteiro precisou se reinventar. Um exemplo bem claro disso está estampado nas capas de revistas, um veículo que, junto às outras mídias jornalísticas, tem reforçado sua relevância e recuperado a atenção do público. As bancas de jornais têm sido tomadas por capas cada vez mais criativas sobre a pandemia que assola o mundo.

Revistas de moda, acostumadas com produções glamorosas, recorreram a ilustrações ou ao vazio. As duas capas que tiveram maior repercussão nos últimos meses foram da Vogue Itália, em abril, e da Marie Claire México, em maio.

VOGUE/reprodução
Marie Claire/Reprodução

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A edição italiana da Vogue trouxe uma capa toda em branco. “Em tempos como estes, uma capa silenciosa diz muito mais do que qualquer palavra ou imagem”, explica o diretor criativo da revista, Ferdinando Verderi, em coletiva de imprensa da revista.

A iniciativa, segundo a publicação, é uma homenagem à roupa usada pelos profissionais da área da saúde, em referência à pandemia do novo coronavírus. Em carta divulgada pela Vogue Itália, o editor chefe Emanuele Farneti justificou a escolha. Segundo ele, além da homenagem aos médicos e enfermeiros, a escolha do branco representa o renascimento, a luz após a escuridão, a soma de todas as cores. “A decisão de imprimir uma capa completamente branca pela primeira vez em nossa história não é porque houve falta de imagens — muito pelo contrário. Nós escolhemos porque branco significa muitas coisas ao mesmo tempo”, acrescenta Farneti.

O editor chefe explica também como nasceu a ideia. “Há pouco menos de duas se-manas, estávamos prestes a imprimir uma capa que estava sendo planejada há algum tempo […], mas falar de qualquer outra coisa enquanto as pessoas estão morrendo…”, refletiu.

Já a edição mexicana da Marie Claire, viralizou com um retrato de uma médica, e um título que também chamou muita atenção: “Os Influencers de Verdade – A Resiliência Tem Cara de Mulher”. A edição traz os verdadeiros influenciadores que se destacam em meio à pandemia do novo coronavírus: os profissionais da saúde. “Uma pandemia que de repente tirou a relevância do que não merece, para dar lugar a verdadeiros influenciadores. Eles são nossos influenciadores, as mulheres que prestam, cuidam e trabalham, nesta edição queremos homenagear cada uma delas”, diz a revista.

Fotografada por Alberto Giuliani, a imagem foi captada em um hospital da região de Pésaro, na Itália. O fotógrafo relatou detalhes sobre o trabalho. “Os olhares dos médicos e enfermeiros no final do turno estão vazios, exaustos por uma quantidade de trabalho nunca antes vista. Suas certezas também são vazias, sufocadas pela sensação de impotência em relação a um vírus desconhecido e letal”, contou em seu Instagram.

Pandemia da desinformação

Um dos principais desafios do Brasil, e do mundo, durante a pandemia de Covid-19, é conter a disseminação de fake news. A ONU – Organização das Nações Unidas considera as fake news sobre o novo coronavírus “mais mortais que qualquer outra desinformação”.

Levantamento da Avaaz (comunidade de mobilização online que leva a voz da sociedade civil para os espaços de tomada de decisão em todo o mundo) revelou que cerca de 100 milhões de brasileiros, 7 em cada 10 internautas, acreditaram em pelo menos uma notícia falsa sobre o coronavírus. Os resultados da pesquisa demonstram, ainda, que o alcance da disseminação de informações falsas no Brasil é enorme: 141 milhões de pessoas identificaram pelo menos uma fake news sobre o novo vírus.

Segundo o estudo, 6 a cada 10 internautas receberam informações falsas sobre a doença pelo WhatsApp, principal vetor de desinformação. Em segundo lugar, vem o Facebook com 5 em cada 10 pessoas recebendo fake news pela plataforma. A pesquisa também foi realizada nos Estados Unidos e na Itália e mostrou que os brasileiros acreditam mais em notícias falsas.

Segundo uma pesquisa publicada pela ONU, em parceria com o International Center for Journalists (ICFJ), o principal tema das fake news está relacionado à origem e à disseminação do novo coronavírus. Enquanto cientistas identificaram o primeiro caso da Covid-19 ligado a um mercado de animais na cidade chinesa de Wuhan, teorias da conspiração acusam outros atores. Isso vai desde culpar as redes 5G, até responsabilizar os fabricantes de armas químicas.

Nessa confusão, é fundamental que a imprensa — e isso vale para veículos tradicionais— jamais perca a perspectiva de fazer valer todo o processo correto: informar com responsabilidade, checar antes de comunicar, ouvir antes de falar e combater veementemente as ilações com fatos e dados.

Em meio a tanta insegurança e instabilidade, temos uma certeza: é fundamental fomentar a pluralidade e o debate das ideias, mas para que esse debate seja rico e frutífero é necessário ter informação confiável. Os produtos jornalísticos emergem novamente como artigo de primeira necessidade, onde mais do que nunca se faz fundamental seu exercício para o combate à desinformação da população.



0 0 votes
Article Rating
Subscribe
Notify of
guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments