Dia do jornalista e a importância social da profissão

Por Laura Mourão – 8° período de Jornalismo UniBH

O Dia do Jornalista foi criado em 1931 pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI), como uma homenagem ao jornalista e médico Giovanni Battista Libero Badaró, importante personalidade na luta pelo fim da monarquia portuguesa e independência do Brasil. 

Segundo o Portal da Imprensa, foi nessa data (07/04), em 1831, que o imperador Dom Pedro I abdicou do trono brasileiro. Depois de 100 anos, a Associação Brasileira de Imprensa prestou uma homenagem à Giovanni Badaró, um dos principais oposicionistas de Dom Pedro, que foi assassinado por seus inimigos políticos. O movimento popular que levou ao seu assassinato, foi o mesmo que levou D. Pedro I abdicar do trono. 

Foi também no dia 7 de abril que a ABI foi fundada, em 1908, com o objetivo de assegurar aos jornalistas todos os seus direitos. 

O jornalismo na sociedade atual

Estamos vivendo um momento de constante ataque à liberdade de imprensa, aos órgãos de comunicação, ao exercício do jornalismo e contra diversos jornalistas, pelos nossos atuais governantes. Além disso, presenciamos um momento histórico, a pandemia mundial do novo coronavírus. O jornalismo emerge, neste momento, como artigo de primeira necessidade, onde mais do que nunca se faz fundamental seu exercício para o combate à desinformação da população. 

O jornalista, professor e também morador do bairro Buritis, Maurício Guilherme Silva Jr., reforça a função social do jornalismo e sua importância no momento em que estamos vivendo.

“O jornalismo se revela essencial justamente por trazer aos territórios de discussão pública uma série de nuances, às vezes caleidoscópicas, da realidade por meio de uma construção da narrativa bastante poderosa e bastante articulada. No caso específico da Covid-19, nós estamos falando do ressurgimento de discussões do jornalismo científico, da cobertura e divulgação científica de uma temática que até muito pouco tempo as pessoas não estavam tão ligadas. E nesse sentido, o jornalismo científico tem a ideia de dar existência pública a elementos de discussão que acabam por se tornar cotidianos.”

Maurício acredita também que o jornalista se alimenta de algo que ele denomina como “arte do estranhamento”, ou seja, se as pessoas passam pelo dia a dia e nas relações umas com as outras de modo a não estranhar nada ao seu redor, isso não pode acontecer com o jornalista. Esse é o principal desafio que permeia a realidade desses profissionais.

“Não só questionar, mas observar tudo que está ao seu redor com um olhar permanente de estranhamento, de investigação, uma espécie de olhar virginal para as coisas”, afirma o professor.  

O jornalista tem, assim, um compromisso fundamental para com a sociedade, dentro de uma democracia, que é fazer com que as pessoas pensem e questionem sobre o que está a sua volta.

A saúde mental do jornalista

Os jornalistas estão na linha de frente de muitos dos eventos mais desafiadores do mundo, desde acidentes de trânsito, cenas de crimes a desastres naturais e guerras, e agora a pandemia mundial da Covid-19. Diante de situações como essas, muitos repórteres acabam assumindo um posicionamento frio para tocar o trabalho do dia a dia. 

A cobertura desses eventos, sejam eles grandes acontecimentos internacionais ou pequenos acidentes mais próximos de casa, podem ter um impacto sobre quem faz a reportagem, levando a problemas como transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), ansiedade, estresse e esgotamento.

No Brasil, essa situação é ainda mais complicada, dado que o país está entre as dez nações com o pior índice de impunidade em crimes contra jornalistas. Isso sem contar na gigantesca quantidade de casos de assédio moral a jornalistas que é registrada no país .

Violência contra jornalistas

O Brasil é um dos dez piores países do mundo em termos de impunidade para assassinatos de jornalistas, segundo um levantamento feito pelo Centro para a Proteção dos Jornalistas (CPJ). E os crimes de ódio contra esses profissionais, crescem cada dia mais em nosso país.  

Em 2019, foram registrados 208 ataques a veículos de comunicação e a jornalistas, um aumento de 54,07% em relação ao ano anterior, quando foram registradas 135 ocorrências, de acordo com o relatório anual de Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil, da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).

De acordo com o relatório, os políticos foram os principais autores de ataques. O relatório registra 144 ocorrências (69,23% do total), a maioria delas são tentativas de descredibilização da imprensa (114). Segundo o levantamento, o presidente Jair Bolsonaro foi responsável – sozinho – por 58,17% dos ataques, ou seja, de 208 ataques aos jornalistas em 2019, 121 deles vieram do atual Presidente da República.

“Acredito que esses ataques contra jornalistas que têm crescido assustadoramente em todo o canto, são motivados pela postura do presidente da república, uma pessoa que não respeita a imprensa, não respeita a liberdade de expressão, que propaga informações falsas. Eu acho que isso respalda e dá uma segurança para que outras pessoas também façam esses ataques”, afirma Alessandra Melo Presidente do Sindicato dos jornalistas de MG. 

Alessandra afirma que é levando essa discussão para a sociedade e denunciando aos órgãos de segurança pública que podemos garantir o livre exercício da profissão. 

“A FENAJ tem feito um trabalho muito legal de monitoramento dos ataques aos jornalistas, isto tem transformado a loucura que a gente vê na televisão em números concretos e isso é muito importante”, finaliza Alessandra.  

Liberdade de imprensa

Segundo o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso,  podemos conceituar a liberdade de imprensa como “a liberdade reconhecida (na verdade, conquistada ao longo do tempo) aos meios de comunicação em geral de comunicar fatos e ideias, envolvendo, desse modo, tanto a liberdade de informação como a de expressão.”

A liberdade de expressão é garantida pela Constituição de 1988, principalmente nos incisos IV e IX do artigo 5º. O que se lê no inciso IX do artigo 5º é o seguinte:“IX – É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;”

Mas a liberdade de imprensa no Brasil não vive seus melhores momentos. O Brasil caiu, pelo segundo ano seguido, no ranking de liberdade de imprensa da organização não governamental “Repórteres Sem Fronteiras”. O país agora ocupa a posição 107 de 180, atrás de Angola, Montenegro e Moçambique.

O relatório da organização afirma que a eleição do presidente Jair Bolsonaro, em 2018, “deu início a uma era particularmente sombria da democracia e da liberdade de imprensa no Brasil”. Naquele ano, o país ocupava a posição 102 na lista, caindo para a 105 em 2019.  

Divulgado anualmente desde de 2002, o ranking se tornou uma referência para a diplomacia e para as organizações internacionais como a ONU e o Banco Mundial.   

De fato, o Brasil está vivendo um período de grande ataque aos jornalistas e aos meios de comunicação em geral. Essa violência é uma das tentativas de restringir a liberdade de imprensa e de expressão. Nesse sentido, se constitui uma ameaça que, felizmente, não está se concretizando. Isso porque os jornalistas e a maioria dos veículos de imprensa estão resistindo, não estão se intimidando e continuam fazendo seus trabalhos.

Cacau Explica

Em homenagem ao Dia do Jornalista (7 de abril) e ao dia da Liberdade de imprensa (3 de maio), a equipe da CACAU – Comunidade de Aprendizagem em Comunicação e Audiovisual do UniBH, produziu uma temporada inteira da série CACAU Explica sobre Jornalismo e liberdade de imprensa. Confira:



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