Literatura e expressão do Homem Moderno

100 anos após o grito de independência do Brasil, acontecia a Semana de Arte Moderna, em São Paulo, movimento que libertou mais uma vez o país de seus laços com a Europa.

Por Virgínia Pedrosa, 6º período de Jornalismo do UniBH

O modernismo caracterizou-se pela mudança de estilo e abandono às nuances europeias, no qual o Brasil tomou para si um estilo mais patriota. No país, a era modernista iniciou em 1922 – cem anos após o grito de Dom Pedro, às margens do Rio Ipiranga – quando alguns artistas, conhecidos como “Grupo dos 5”, produziram, no Teatro Municipal de São Paulo, a Semana de Arte Moderna. O evento apresentou uma nova visão de mundo ao público, dando início ao movimento tão conhecido e aclamado até hoje.

O “Grupo dos 5”, na verdade, era composto por 6 integrantes: Mário de Andrade (escritor), Oswald de Andrade (escritor), Tarsila do Amaral (pintora), Anita Malfatti (pintora), Menotti Del Picchia (escritor) e Manuel Bandeira (escritor). Eles foram responsáveis por todo o processo de criação, desenvolvimento, alimentação e divulgação da iniciativa. Segundo fontes da época, durante toda a fase de aperfeiçoamento do projeto, o grupo viajava pelo país, buscando por verdadeiros artistas e pela verdadeira cultura brasileira.

Terminado a fase de pesquisa, para as exposições foram convidados artistas de todas as categorias, como pintura, poesia, música e dança. E assim, na segunda semana do mês de fevereiro do ano de 1922, ocorreu o nascimento da Semana de Arte Moderna no Brasil.

Como esperado pelos seus idealizadores, a reação do público não poderia ser pior. Entre vaias e gritos de insulto, os representantes agradeciam e reverenciavam a plateia. Estavam todos chocados com tamanha barbaridade.

Diferente da já costumeira arte romântica vinda da Europa, a arte moderna trazia ao seus espectadores cores vivas, imagens de pessoas pretas e pardas nas telas e, nos palcos, a poesia e a prosa, declamadas por versos ásperos como lixas e a “falta de tato” com a burguesia que lá estava. O modernismo, como conhecemos hoje, é a fase final de todo o processo. Foi um movimento que abrangeu não só a cultura, como também a política e a sociedade, e que mesmo depois de um século da sua ascendência, ainda é base para estudiosos e profissionais de áreas eruditas.

Literatura Moderna

A literatura moderna foi separada em três gerações, cada uma delas com seus próprios aspectos e qualidades, trazendo nomes que até a atualidade são modelos para novos escritores.

A 1º Geração aconteceu entre os anos de 1922 e 1930. Ficou conhecida como “Fase Heroica”, pois se tratava do começo do movimento que buscava trazer ao público uma arte propriamente brasileira. Nessa mesma época, foram criados grupos e manifestos com bases nacionalistas, que propunham a ideia de um orgulho genuíno de sua cultura, sem interferência de países europeus ou da América do Norte.

Nessa busca de uma nova identidade, as características literárias já conhecidas foram aperfeiçoadas para enquadrar-se com o cidadão brasileiro e com a sua real representatividade. A paisagem brasileira, composta de montanhas, florestas e sertões, foram atribuídas a estética dos livros, a linguagem mais coloquial em companhia da ironia, do cinismo e da irreverência, a não aceitação da forma de governo da época e a oposição da forma perfeita de criação auxiliaram na construção dessas novas histórias. Tais narrativas criticavam de forma cômica e direta as dificuldades da sociedade comum. Suas principais obras e autores são: “Macunaíma” (Mário de Andrade), “Manifesto da Poesia Pau-Brasil” (Oswald de Andrade), “O Ritmo Dissoluto” (Manuel Bandeira) e “Brás, Bexiga e Barra Funda” (Antônio Alcântara Machado).

A 2º Geração, “A Geração dos 30”, ocorreu entre os anos de 1930 até 1945, com a reafirmação e a consolidação do novo modelo de literatura, apresentado em 1922. Separando o tema nacionalismo entre “Urbano” e “Regional”, a 2º geração também é marcada por seu contexto histórico (a grande Depressão da Bolsa de Valores e o início de Governos Totalitários e Ditatoriais) e por sua realidade social, econômica e cultural, tratando de assuntos como a fome, miséria, desemprego, a instabilidade na questão política e o medo da perda da democracia.

Os primeiros marcos da segunda geração do movimento modernista deu-se com a publicação dos livros “Alguma Poesia” (Carlos Drummond) e o livro de prosa “A Bagaceira” (José Américo).

Para alguns estudiosos, a segunda geração do modernismo foi campo fértil para a criação e concretização de obras literárias, devido ao grande número de vivências históricas entre períodos.

A 3º Geração, a fase “final” do modernismo, ocorre entre 1945 a 1980 (alguns estudiosos acreditam em seu fim no ano de 1964, juntamente ao golpe militar. Já outros acreditam que ainda vivemos na Era Modernista, mesmo que atualmente seja chamada de contemporânea).

Diferentemente das gerações passadas da Era Modernista, a 3º Geração é marcada por artistas mais conservadores, voltada ao passadismo acadêmico, e ao saudosismo literal.

A poesia e a prosa também são separadas em características distintas. A poesia, por exemplo, volta a utilizar do parsianismo, mostrando-se mais preocupada com a forma da palavra e com a estética do texto. O gênero também volta a ser mais intimista e mais humanizado, voltando ao aspecto de metrificação, versificação e a busca da perfeição. Algumas das obras e autores mais conhecidos da poesia da 3º geração são: “Perto do Coração Selvagem” (Clarisse Lispector) e “O Santo e a Porca” (Ariano Suassuna).

A prosa é separada em subdivisões: regional (focada na vida no campo e utilizando de linguagem coloquial) e urbana (voltada aos centros urbanos e utilizando de linguagem mais rebuscada). Entretanto, algumas características são igualmente utilizadas em ambos os tópicos; elas trazem autores mais conservadores, comparados àqueles da 1º geração.

Devido ao período menos conturbado no país, e o fim da segunda guerra mundial, os romances voltam a ter forma mais serena e enredos mais tranquilos. Também é desenvolvida a experimentação artística, ou seja, a liberdade para se expressar e criar, de maneira extraordinária. É nessa mesma época o nascimento de novos gêneros literários, como o realismo fantástico e os contos fantásticos. Algumas das obras e autores de prosa, da 3ª Geração, são: “Ciranda de Pedra” (Lygia Fagundes Telles) e “Morte e Vida Severina” (João Cabral de Melo Neto).

A literatura é a expressão do homem diante de um período histórico.



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