A comunicação não violenta ajuda na resolução de conflitos e promove uma comunicação mais efetiva.
por Iris Aguiar, estudante do 2º período de jornalismo no UniBH
O conflito está presente em toda relação do ser humano e é parte constituinte da existência. Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), pode ser definido como um processo ou estado em que duas ou mais pessoas divergem em razão de metas, interesses ou objetivos individuais percebidos como mutuamente incompatíveis.
Normalmente o conflito é tido como negativo nas relações sociais. Neste sentido, muitos acreditam que a sua resolução beneficiará uma parte e proporcionará perda a outra. Entretanto, existe a possibilidade de se perceber o conflito de forma positiva.
A partir do momento em que se percebe o conflito como um fenômeno natural na relação dos seres vivos é possível percebê-lo de forma positiva e passível de resolução.
É então que a Comunicação Não Violenta (CNV) torna-se tão importante em um local em que o conflito é inerente às relações humanas sociais. A CNV mostra-se como a prática de comunicabilidade com empatia e respeito, que ajuda a manter o relacionamento interpessoal de maneira saudável.
Como surgiu
A Comunicação Não Violenta foi criada por Marshall B. Rosenberg na década de 60. Ela aparece como uma proposta de comunicação para permitir que a simpatia ocorra naturalmente, usando a linguagem como forma de inspirar conexões genuínas entre as pessoas e atender às necessidades de todos.
A CNV visa aumentar as oportunidades de contribuições voluntárias entre si, seja quando nos expressamos ou quando ouvimos e também melhorar o relacionamento interpessoal e reduzir a violência no mundo.
O que é
A CNV é baseada nas habilidades de linguagem e de comunicação e pode aprimorar nossa capacidade de permanecer humanos, mesmo em condições adversas. Adquirimos a capacidade de reestruturar a forma como nos expressamos e ouvimos os outros.
Nossas palavras não são respostas repetitivas e automáticas, mas respostas conscientes, firmemente baseadas no conhecimento de nossas percepções, sentimentos e desejos. A CNV nos leva a entender que a comunicação é melhor realizada de forma clara e exposta, ao mesmo tempo que endereçamos nossa atenção e empatia ao próximo.
A CNV propõe o aprendizado de habilidades de linguagem e comunicação e ajuda a reformular a maneira como nos expressamos e ouvimos os outros. Ademais, também nos ajuda a nos conectar com os outros e a nós mesmos, para que seja possível o exercício da compaixão e da comunicação orientada por alguns aspectos:
- o que observamos;
- como sentimos;
- o que precisamos;
- o que pedimos para enriquecer nossas vidas.
A CNV promove uma escuta mais profunda e ativa, cultiva o respeito e a empatia e inspira o desejo mútuo para comunicar, resolver conflitos e escutar o outro. Algumas pessoas usam a CNV para melhorar suas relações pessoais e questões interpessoais, outras constroem relacionamentos eficazes no trabalho ou na política. Em todo o mundo, a CNV é usada para mediar disputas e conflitos em todos os níveis.
A professora, advogada, Doutora e Mestre em Ciências da Linguagem, Fátima Caldeira, explica que uma comunicação livre de pré-julgamentos, carregada de empatia e compreensão, com autêntico interesse, pode evitar conflitos desnecessários e fazer nascer uma real compaixão pelos outros.
“Centremo-nos na cooperação, ela contribui para que necessidades sejam atendidas, tanto as do outro quanto as nossas, uma vez que vivemos em sociedade e devemos estar cientes de que só realizamos nossos sonhos através da cooperação com os demais”, conclui.
Os Componentes da Comunicação não violenta
Na comunicação não violenta, de acordo com Marshall B. Rosenberg, existem quatro componentes principais que nos ajudam a entender e a praticar tal técnica no dia a dia para melhorar nossa interlocução e, consequentemente, aprimorar nossa habilidade comunicativa.
O primeiro princípio é a observação. Ser capaz de identificar o que está ocorrendo na situação, entender se o que é observado exerce algum impacto na nossa vida e que no primeiro momento devemos tentar fazê-la sem julgamento.
O segundo princípio consiste em identificar nosso sentimento em relação aquilo que está sendo dito ou feito. A partir disso, o terceiro componente é entender qual necessidade pessoal está interligada com nossos sentimentos em relação à situação.
Por fim, o quarto componente é o pedido, que é a capacidade de verbalizar o que queremos e de que maneira.
Esses componentes servem para guiar nossa comunicação em cada situação, mas também consiste em receber essas quatro informações ao escutar o outro e entender de maneira clara as informações transmitidas.
Fátima Caldeira informa que os primeiros passos para a comunicação não violenta é procurar compreender o outro, observando-o e prestando atenção no que ele diz e em toda sua linguagem não verbal também.
“Buscar colocar-se no lugar do outro, demonstrando empatia e, principalmente, sem pré-julgamentos. A escuta ativa faz parte desse processo e o desejo de cooperar faz parte do alcance de uma comunicação não violenta”, afirma.
Escuta ativa
A escuta ativa é uma técnica utilizada em conjunto com a comunicação não violenta e consiste em utilizar estratégias para escutar e demonstrar interesse na fala do outro.
A escuta ativa não é apenas escutar, mas de fato demonstrar interesse, não julgar e investigar com curiosidade o que o outro tem a dizer. Essa estratégia ajuda a criar bons relacionamentos, minimizar conflitos, desenvolver a empatia e despertar a consciência de que as pessoas precisam se ouvir .
No âmbito pessoal ou profissional, é essencial, pois mostra que o outro está sendo valorizado, além de mostrar que somos pessoas flexíveis no que diz respeito ao acolhimento de ideias.
A professora Fátima afirma que, na escuta ativa, o que se coloca é uma escuta eivada de um interesse autêntico no assunto que está sendo tratado e sem julgamento de qualquer tipo em relação àquele com quem nos comunicamos. Nela, deve haver empatia e nenhum tipo de preconceito.
“Devemos observar o outro e procurar compreendê-lo, não só nas palavras que ele diz, mas em toda sua linguagem não verbal também. Nela, devemos demonstrar flexibilidade, acolhendo as ideias do outro sem interrupções e nada de tentar adivinhar o que o outro está querendo dizer, mas realmente ouvindo-o com atenção e interesse legítimo no que ele diz”, comenta a professora.
A escuta ativa, assim, guarda enorme relação com a comunicação não-violenta, uma vez que trata-se de técnica que visa a cooperação, buscando a diminuição da violência no mundo.
A escuta ativa possui 5 técnicas:
- Mostrar interesse: Pode ocorrer de forma não verbal, com um abano de cabeça ou de forma verbal, perguntando sobre o assunto ou pedindo maior detalhamento.
- Clarificar: Tornar mais claro aquilo que foi dito. O ouvinte pode perguntar sobre algo que não tenha entendido.
- Parafrasear: Repetir as ideias principais do que foi dito com a intenção de demonstrar que entendeu o que a pessoa disse.
- Fazer-se eco: Mostrar que entendeu os sentimentos da pessoa que está falando, a partir de perguntas sobre o sentimento ou afirmações. Ex: “então essa situação o deixa chateado?”
- Resumir: Resumir tudo o que foi dito.
Por meio da escuta ativa e profunda, o método da comunicação não violenta possibilita que as interações ocorram com mais respeito, atenção e empatia.