Com indicações dominadas por serviços de streaming e estreias de novos nomes, evento busca por reposicionamento após polêmicas nas últimas edições.
Por Rafael Alef, aluno do 3º período de Jornalismo
Sempre fui um grande entusiasta por filmes, de comédia à ficção cientifica, dramas ou musicais, desde os tempos em que a diversão da semana era alugar o lançamento mais recente na locadora mais próxima. Por essa paixão, acompanho as premiações do Oscar há muitos anos e, ao me sentar em frente à TV para assistir a entrega dos prêmios, uma coisa era certa: a predominância de artistas brancos, subindo ao palco, emocionados, e descendo com mais um troféu em mãos.
Em busca de uma melhor representação da diversidade em Hollywood, a premiação, que chega em sua 93ª edição em 2021, acrescentou 819 novos membros votantes, entre minorias étnicas e raciais, e mulheres, o que resultou em grandes nomes como Viola Davis, Daniel Kaluuya e o finado Chadwick Boseman, reconhecidos entre os indicados nas principais categorias. Essa inclusão, porém, chega ao Oscar bem devagar, mostrando que a academia pode e deve fazer mais para reconhecer de forma justa os inúmeros talentos subestimados ao longo de sua história.
Por que o Oscar é tão branco?
Há 5 anos, a ativista April Reign deu início ao movimento #OscarsSoWhite (Oscar tão branco, na tradução literal), compartilhando sua indignação após o anúncio de 20 categorias de atuação, todas ocupadas por atores e atrizes brancos, pelo segundo ano consecutivo. A hashtag viralizou no Twitter e tomou conta da mídia internacional, levando a boicotes da classe artística, como fizeram a atriz Jada Pinkett Smith e o diretor Spike Lee, expondo um passado problemático de uma das premiações mais famosas do mundo.
Em toda a sua história, apenas uma atriz negra levou para casa a estatueta de Melhor Atriz. Halle Berry recebeu o prêmio por sua atuação no filme Monster’s Ball (no Brasil, A Última Ceia) na 74ª cerimônia do Oscar, em 2002. Visivelmente emocionada, a atriz fez um discurso histórico, em que destacava a importância da vitória como um grande avanço para novas oportunidades para atrizes negras. Quase 20 anos depois, pouco vejo sobre as esperanças da atriz.
“Se eu, voltando ao Oscar pela quarta vez em 2021, me tornei a atriz negra mais indicada da história, isso é a prova da absoluta falta de material que existe para artistas não-brancos”, destacou a atriz Viola Davis, em entrevista à revista norte americana Variety. O recorde, amplamente divulgado mostra como a academia esnoba performances brilhantes, como as de Lupita Nyong’o por sua atuação em Us (Nós), Greta Gerwig pela direção em Little Women (Adoráveis Mulheres) e Spike Lee pela direção em Da 5 Bloods (Destacamento Blood), reforçando o machismo e a hegemonia branca entre os vencedores anuais.
Após um 2020 intenso, que sofreu não só com a pandemia da Covid-19, mas também com os crimes brutais de racismo, como os assassinatos de George Floyd e Breonna Taylor nos Estados Unidos, é impossível para qualquer organização se abster de posicionamentos e atitudes em busca de inclusão, diversidade e combate ao preconceito. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas não é diferente e, ao meu ver, buscou um ano oportuno para abrir portas para nomes, até então ignorados, entre a extensa lista de indicados.
Entre novas regras e diretrizes, aplicadas a partir de 2022 e obrigatórias a partir de 2024, a Academia busca uma melhor inclusão de públicos pouco representados, dentro e fora das telas. Neste ano, vejo algumas mudanças significativas, como o feito inédito na categoria Melhor Direção, que conta com duas mulheres entre os 5 indicados, Chloé Zhao, por “Nomadland”; e Emerald Fennell, por “Bela Vingança”, com outras indicações nas categorias principais; além de Riz Ahmed, primeiro ator muçulmano indicado como Melhor Ator; e Yuh-Jung Youn, primeira atriz sul-coreana indicada ao prêmio de Melhor Atriz.
Existe mudança e existe espaço para ainda mais mudanças. O Oscar representa a excelência do cinema e não há dúvidas quanto ao inegável talento entre seus indicados, porém é preciso reconhecer os defeitos e falhas da academia quanto as oportunidades para os artistas das mais diferentes raças e culturas, que entregam performances tão extraordinárias quanto as da Hollywoood branca. As indicações e os vencedores da premiação têm influência direta nas histórias contadas nas telas de cinema. Enxergo como uma função da academia liderar o impulso para um futuro mais inclusivo e respeitoso.
A 93ª edição do Oscar vai ao ar no próximo domingo, 25 de abril, e será transmitida ao vivo para não-assinantes, no serviço de streaming Globo Play, e pela TNT – na TV fechada. Mesmo com os protocolos de distanciamento, em decorrência da pandemia do novo coronavírus, a premiação vai ser 100% presencial. Abaixo, a lista com os indicados:
MELHOR FILME
Meu Pai
Judas e o Messias Negro
Mank
Minari
Nomadland
Bela Vingança
O Som do Silêncio
Os 7 de Chicago
MELHOR DIREÇÃO
Thomas Vinterberg, por Druk – Mais uma Rodada
David Fincher, por Mank
Lee Isaac Chung, por Minari
Chloé Zhao, por Nomadland
Emerald Fennell, por Bela Vingança
MELHOR ATOR
Riz Ahmed, por O Som do Silêncio
Chadwick Boseman, por A Voz Suprema do Blues
Anthony Hopkins, por Meu Pai
Gary Oldman, por Mank
Steven Yeun, por Minari
MELHOR ATRIZ
Viola Davis, por A Voz Suprema do Blues
Andra Day, por Estados Unidos Vs Billie Holiday
Vanessa Kirby, por Pieces of a Woman
Frances McDormand, por Nomadland
Carey Mulligan, por Bela Vingança
MELHOR ATOR COADJUVANTE
Sacha Baron Cohen, por Os 7 de Chicago
Daniel Kaluuya, por Judas e o Messias Negro
Leslie Odom Jr., por Uma Noite em Miami
Paul Raci, por O Som do Silêncio
Lakeith Stanfield, por Judas e o Messias Negro
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Maria Bakalova, por Borat: Fita de Cinema Seguinte
Glenn Close, por Era uma Vez um Sonho
Olivia Colman, por Meu Pai
Amanda Seyfried, por Mank
Yuh-Jung Youn, por Minari
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
Borat: Fita de Cinema Seguinte
Meu Pai
Nomadland
Uma Noite em Miami
O Tigre Branco
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
Judas e o Messias Negro
Minari
Bela Vingança
O Som do Silêncio
Os 7 de Chicago
MELHOR CURTA-METRAGEM
Feeling Through
The Letter Room
The Present
Two Distant Strangers
White Eye
MELHOR ANIMAÇÃO
Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica
A Caminho da Lua
Shaun, o Carneiro, o Filme: A Fazenda Contra-Ataca
Soul
Wolfwalkers
MELHOR CURTA DE ANIMAÇÃO
Burrow
Genius Loci
If Anything Happens I Love You
Opera
Yes-People
MELHOR DOCUMENTÁRIO
Collective
Crip Camp: Revolução pela Inclusão
The Mole Agent
Professor Polvo
Time
MELHOR DOCUMENTÁRIO DE CURTA-METRAGEM
Collete
A Concerto is a Conversation
Do Not Split
Hunger Ward
A Love Song for Latasha
MELHOR FILME INTERNACIONAL
Druk: Mais uma Rodada (Dinamarca)
Better Days (Hong Kong)
Collective (Romênia)
O Homem que Vendeu Sua Pele (Tunísia)
Quo Vadis, Aida? (Bósnia)
MELHOR FOTOGRAFIA
Judas e o Messias Negro
Mank
Relatos do Mundo
Nomadland
Os 7 de Chicago
MELHOR MONTAGEM
Meu Pai
Nomadland
Bela Vingança
O Som do Silêncio
Os 7 de Chicago
MELHORES EFEITOS VISUAIS
Love and Monsters
O Céu da Meia-Noite
Mulan
O Grande Ivan
Tenet
MELHOR TRILHA SONORA ORIGINAL
Terence Blanchard, por Destacamento Blood
Trent Reznor e Atticus Ross, por Mank
Emile Mosseri, por Minari
James Newton Howard, por Relatos do Mundo
Trent Reznor, Atticus Ross e Jon Batiste, por Soul
MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
“Fight for You” – Judas e o Messias Negro
“Hear my Voice” – Os 7 de Chicago
“Husavik” – Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars
“Io Sí” – Rosa e Momo
“Speak Now” – Uma Noite em Miami
MELHOR SOM
Greyhound
Mank
Relatos do Mundo
Soul
O Som do Silêncio
MELHOR FIGURINO
Emma
A Voz Suprema do Blues
Mank
Mulan
Pinóquio
MELHOR CABELO E MAQUIAGEM
Emma
Era uma Vez um Sonho
A Voz Suprema do Blues
Mank
Pinóquio
MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO
Meu Pai
A Voz Suprema do Blues
Mank
Relatos do Mundo
Tenet