O hábito de leitura na juventude é cada vez menor, segundo dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil.
Por Iris Aguiar, estudante do 2º período de Jornalismo no UniBH.
Eu cresci lendo diversos livros por ano. Me lembro de passar tardes a fio lendo livros e quando terminava já estava afoita, a procura da continuação da saga ou do próximo livro. Tal costume não parece ser o mesmo para todo mundo. Mas então, como é possível interpretar o cenário?
O hábito de leitura entre crianças de 5 a 10 anos, segundo dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, é grande, mas com o passar dos anos esse hábito tende a diminuir, e as razões para isso são diversas.
Ler durante a juventude é um grande desafio para nós, jovens, que estamos vivendo em um mundo que a cada dia cria mais redes sociais, serviços de streaming e novas maneiras de interagir e passar o tempo online. Se desconectar e dedicar um tempo para a leitura, portanto, pode ser difícil.
Além de tudo isso, muitos jovens cresceram, diferente da minha experiência, sem ter contato com a leitura de maneira assídua, ou sem a possibilidade de escolher o que iriam ler e quando queriam o fazer. Muitas vezes ler era uma atividade realizada apenas para cumprir um dever da escola. Às vezes, assistir o filme do livro era mais rápido e tinha uma eficácia parecida.
Imediatismo, ansiedade e redes sociais
O último estudo Retratos da Leitura, realizado pelo Instituto Pró-Livro (IPL), Itaú Cultural e IBOPE Inteligência, considera o leitor toda pessoa que leu, inteiro ou em partes, pelo menos um livro nos últimos 3 meses antes de sua realização. Esse estudo revelou que existem cerca de 100 milhões de leitores, que compõem 52% da população, mas houve uma queda em tal número no Brasil.
O estudo demonstrou que as crianças são as que leem mais livros de literatura por vontade própria e com mais frequência. Ao contrário, as faixas etárias de 14 a 17 anos e de 18 a 24 anos são as que apresentam maior percentual de queda de leitores, de 8 pontos percentuais em relação à pesquisa de 2015. A internet e as redes sociais aparecem como principais atividades realizadas no tempo livre dessa última faixa etária.
Quando criança, a leitura fazia parte do meu dia a dia, mas quando cresci, fui para o ensino médio, depois para faculdade, e ler se tornou uma atividade rara. A leitura se tornou uma maneira de crescimento pessoal e obtenção de conhecimento, mesma justificativa que se destacou na pesquisa, juntamente à atualização cultural e o conhecimento geral como motivos para a leitura.
Entendi, então, que ler passou a ser uma obrigação e motivos como falta de tempo se tornaram frequentes para justificar a falta da leitura constante e a diminuição do número de livros que lia quando criança. O crescimento do uso das redes sociais e a possibilidade de passar o tempo assistindo vídeos, filmes ou séries, também é um fator que influencia no hábito de ler, já que temos menos tempo para tal.
Com todas as redes, é difícil se desapegar e tirar um tempo para leitura, principalmente quando se trata de redes que mostram o que acontece quase em tempo real, o que também reforça um dos aspectos que torna a leitura difícil, o imediatismo.
Estamos tão acostumados com a possibilidade de assistir as coisas ao vivo, acelerar vídeos e pular partes chatas, que ler se torna uma tarefa de persistência, já que não existe uma maneira de acelerar um livro, por exemplo, ou pular algumas partes sem prejudicar a leitura.
Apesar de competir com a leitura, as redes sociais também podem ser utilizadas para influenciar esse hábito. No tik tok, por exemplo, o chamado booktok tem levado os jovens a se aventurarem nas compras de diversos livros que estão “em alta” e sendo comentados pelos maiores influenciadores das redes. Precedente ao tik tok, no youtube existe um nicho de influenciadores e produtores de conteúdo do booktube, que também falam sobre os livros, suas impressões e indicações.
Como continuar a ler, mesmo quando envelhecemos?
Ler na juventude é um desafio que tem todas essas justificativas como obstáculo, além da falta de tempo e dos estudos. Mas não é impossível. Para começar esse hábito as dicas mais simples são: leia, desligue seu wifi, tire um tempo para se dedicar a essa atividade e planeje seu tempo.
Parece muito simples quando dito assim, mas para ler o primeiro passo é necessário abrir um livro. Contudo, mesmo que pareça simples, existem ações importantes que nós, enquanto sociedade, podemos fazer para apoiar os jovens e ajudar que, na transição da infância para adolescência, esse hábito não se perca.
A falta das políticas públicas de incentivo à leitura são apontadas por Marcos Pereira, vice-presidente do Instituto Pró-Livro (IPL), como um dos motivos da diminuição da leitura pelos jovens, que na faixa dos 11 anos perdem seu mediador, que costumava ser os pais ou os professores, que influenciaram o gosto pela leitura.
A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil informa que apenas 17% da população brasileira frequenta bibliotecas (escolares ou públicas) sempre ou às vezes, e a maioria vai às bibliotecas para pesquisar ou estudar (51%) e 33% para ler livros por prazer.
Dessa forma, como cidadão, fornecer apoio às políticas públicas para mudar o cenário atual também faz parte das ações que podemos realizar para mudar a realidade da leitura por jovens no nosso país. E para uma mudança pessoal, minha dica é: abra um livro!