Lei Aldir Blanc: auxílio se tornou uma luz no fim do túnel para parte da classe artística no Brasil

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Ator, radialista e sonoplasta, Delaney Júnior, compartilha  como a Lei Aldir Blanc o ajudou a sobreviver durante a pandemia.

Por Alexandre Santos, estudante do 8º período de jornalismo do UniBH

Salas escuras,  cortinas pesadas, luzes estrategicamente dispostas pelo salão, atores e atrizes concentrados. Isso é parte da experiência de visitar uma sala de teatro e embarcar nas histórias, reflexões e críticas propostas pela expressão artística. O teatro surgiu em IX a.C , na Grécia antiga, como uma forma do homem apresentar  sentimentos, angústias, medos e sonhos. De lá para cá, muita coisa mudou. 

Agora podemos usufruir de uma infinidade de aparatos tecnológicos que, quando não colaboram para o aprimoramento da experiência dentro de uma sala de teatro, possibilitam que a arte ultrapasse as barreiras do presencial e chegue até o público aonde quer que ele esteja. 

A produção cultural é, historicamente, desvalorizada no país e a pandemia do novo coronavírus (SARS-Cov 2) veio para piorar ainda mais a situação. De acordo com estudo realizado pela União das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a maioria dos artistas que atuam em circo (77%), em casas de espetáculo (73%) e no teatro (70%) perderam a totalmente suas receitas entre maio e julho de 2020. E é nesse cenário que a Lei Aldir Blanc nasce. 

A lei criada pela deputada Benedita da Silva (PT) e que, teve Jandira Feghali (PCdoB-RJ) como relatora, tem como objetivo, apoiar os profissionais da indústria cultural no Brasil. A aplicação da lei acontece da seguinte forma: o governo federal libera uma verba de R $3 bilhões para os estados e municípios da União. A partir disso, os estados ficam a cargo de auxiliar  artistas que necessitam do auxílio, enquanto os municípios atendem aos espaços e centros culturais. 

A Lei Aldir Blanc nasce com a proposta de auxiliar os artistas durante o período pandêmico, tendo em vista que o exercício de suas atividades de trabalho foram interrompidas em razão do isolamento social. De acordo com o deputado federal, Aureo Ribeiro (Partido), a lei “ajudou a democratizar o investimento em cultura, pois, historicamente, o incentivo fiscal vai para grandes produções e artistas famosos”, pondera. 

Procurada, a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult) informou que o Estado de Minas Gerais liberou, em 2020, cerca de R $135,7 milhões para a operacionalização da Lei Aldir Blanc. Segundo a secretaria, parte do valor destinado ao Estado foi direcionada ao auxílio emergencial e outra parte para 27 editais e prêmios, distribuídos em áreas temáticas como Audiovisual, Mostras e festivais, Memória, Patrimônio, Circo, Teatro, Música, Dança, Equipamentos Culturais, Literatura, Feiras, Quadrinhos e Artes Visuais. 

A vice-presidente do Conselho Estadual de Política Cultural (CONSEC), Aryanne Ribeiro (45), que é produtora cultural, explica que a lei foi de extrema importância para setor cultural, tendo ele não só movimentado a indústria com a possibilidade de manter a classe artística por um determinado tempo, mas, principalmente, ativar todo um setor que estava desativado. 

Ela conta que, para o artista ser beneficiado pela Aldir Blanc, ele tem que participar de um cadastro municipal e estadual. Em Minas Gerais foi criada uma comissão, dividida por setores, para criar editais que contemplassem o maior número possível de pessoas. No estado, a lei já beneficiou, nos 27 editais, mais de sete mil projetos advindos de mais de 400 municípios, abrangendo todas as 13 regiões intermediárias de Minas Gerais.

Uma nova oportunidade
Foto: Vitor Macedo

Delaney, morador do bairro Betânia, na Região Oeste da capital mineira, é um artista independente que, aos poucos, tem conseguido conquistar seu espaço na cena cultural de Belo Horizonte e viver do que mais ama: o teatro. O jovem ator, acumula habilidades em seu currículo, já tendo trabalhado como radialista e sonoplasta. 

Apaixonado pelo universo das artes visuais, o artista explica que sempre esteve disposto a “se jogar” em todas as oportunidades possíveis, se aventurar e aprender trocando experiências. Delaney, que trabalha profissionalmente no setor cultural há cinco anos, conta que já captou recursos por meio da Lei Aldir Blanc. O ator conversou com o Portal da CACAU e contou como o auxílio contribuiu para que ele conseguisse dar o primeiro passo na realização de um grande sonho. Confira a entrevista completa seguir: 

  1. Regulamentada pelo presidente no dia 29 de junho de 2020, a Lei número 14.07 determina a realização de ações emergenciais destinadas ao setor cultural. Qual é a importância desse tipo de lei para a indústria no Brasil? 

Resposta: A Lei Aldir Blanc surge no meio da pandemia, quando o setor cultural precisou parar e ficou impossibilitado de seguir com suas atividades por diversas questões. O setor cultural foi o primeiro a parar e está sendo um dos últimos a retornar. Só agora, em razão da flexibilização, as pessoas estão podendo acessar esses espaços culturais como os teatros, casas de show e de entretenimento. A lei teve um papel fundamental em dois pontos primordiais, um deles foi reacender esse “fogo” no artista de produzir algum material criativo que pudesse colocar suas vontades, inquietudes e desejos. Outro ponto é o incentivo financeiro que permite colocar o prato na mesa e sobreviver num país em que as coisas estão cada vez mais caras e difíceis. 

  1. Como foi conseguir  captar recursos por meio da Lei Aldir Blanc?

     

Resposta: Teve um momento que eu estava bem vulnerável, sem trabalho, mentalmente cansado e enxerguei na Lei Aldir Blanc uma oportunidade de produzir e viver. Dentro da lei, tem dois caminhos, um com o objetivo de ajudar os trabalhadores da cultura com uma espécie de auxílio emergencial e outro focado em espaços culturais. Eu fiz a inscrição como artista, para produção de dois projetos, um musical e outro teatral, de produção audiovisual. As duas passaram, mas eu fui contemplado apenas no projeto teatral. 

Não é qualquer um que consegue fazer a inscrição, pois é preciso uma comprovação de atuação no segmento cultural ou de entretenimento. Ou seja, o candidato tem que provar que de fato é um artista e precisa daquela verba, por estar impossibilitado de trabalhar. Então, isso foi apenas um incentivo para ajudar o artista a continuar produzindo durante a pandemia. Não foi um processo burocrático, foi muito simples na verdade. 

  1. Em qual projeto você está trabalhando no momento? 

Resposta: Meu projeto é um curta-metragem, com duração máxima de quinze minutos. O filme fala sobre uma montanha-russa que eu tive durante todo esse momento de pandemia. Momentos de felicidade e desejo, como também de vazio, conflito e “buracos” que eu fui cavando, a fim de me encontrar e entender o que estava acontecendo comigo. É um trabalho muito importante que tem me ajudado a amadurecer enquanto artista. Eu estou muito feliz e espero que as pessoas possam se identificar. 

  1. Você acredita que a Lei é eficaz em seu papel de auxiliar os profissionais da indústria cultural nesse período de isolamento social?  

Resposta: Foi completamente eficaz e ajudou muitos artistas nesse momento. Foi uma vitória para o setor cultural e artístico do nosso país. 

Inscrição de novas propostas 

As propostas para Lei Aldir Blanc podem ser desenvolvidas presencial ou virtualmente desde que os protocolos sanitários de combate à Covid-19 sejam respeitados. Para acessar o edital e os anexos basta clicar aqui. De acordo com a Secult, o edital tem por finalidade contemplar propostas utilizando procedimentos simplificados para a seleção, execução e prestação de contas dos projetos contemplados. As inscrições de propostas poderão ser feitas de 18 a 27 de outubro na Plataforma Digital de Fomento e Incentivo à Cultura da Secult.

 



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