50 anos em 5: meio século de fatos marcantes

O ano de 2019, entre muitos fatos, também foi ano do 50º aniversário de acontecimentos que mudaram a história da humanidade e como nós enxergamos o mundo.

Por Fernanda Freitas – 8º período de Jornalismo do UniBH

A CACAU – Comunidade de Aprendizagem em Comunicação e Audiovisual preparou uma série especial, chamada “50 anos em 5: meio século de fatos marcantes”. Por meio da série, você vai conhecer um pouco as histórias da chegada do homem à Lua, do grande Woodstock, do surgimento da internet e do Jornal Nacional, e de Marighella.

Meio século de Arpanet

Como surgiu o ‘embrião’ da internet que conhecemos 

Em 1969, o cenário mundial estava bipolarizado por União Soviética e Estados Unidos. Ocorria a Guerra Fria, que dividiu o mundo pelas ideologias comunista versus capitalista, comandadas pelas duas superpotências. Foi nesse cenário que surgiu algo que daria origem ao que hoje chamamos de internet: a Arpanet, desenvolvida pela Agência de Projetos em Pesquisas Avançadas (Arpa, na sigla em inglês) do Departamento de Defesa do Governo Norte Americano.

O projeto distribuiria em servidores informações como a comunicação das Forças Armadas americanas que, antes, ficavam no Pentágono, para evitar um colapso caso houvesse um ataque soviético, como afirma o professor de TI do Centro Universitário de Belo Horizonte – UniBH, Otaviano Silvério. “O governo dos Estados Unidos tinha muito medo de uma invasão da URSS através dos seus serviços, dos seus servidores, dos seus computadores. Porque todo esse processamento era centralizado”, explica Otaviano.

A primeira conexão estabelecida pela arpanet aconteceu no dia 29 de outubro. O estudante de computação, Charley Kline, e o professor responsável, Ronald Kleinrock, enviaram, de uma sala da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, a mensagem “LO”, que originalmente era “login”, mas a Arpanet travou. A palavra foi encaminhada para colegas da Universidade de Stanford, distante quase 600 km, na cidade de Palo Alto.

Inicialmente, a Arpanet contemplava quatro universidades: as Universidades da Califórnia, em Los Angeles e Santa Bárbara, o Instituto de Pesquisa de Stanford e a Universidade de Utah. Na década seguinte, ocorreu sua expansão para mais universidades e, em 1981, já eram mais de 200 computadores conectados e em crescente ascensão.

Posteriormente, com o desenvolvimento da fibra óptica nos anos 80, as possibilidades de conexão se ampliaram para os civis. No fim da década, nasce a rede mundial de computadores, World Wide Web em inglês, criada pelo engenheiro inglês Tim Berners-Lee, em 1989. A criação da web levou ao disparo da popularidade e foi fundamental para criação da internet como conhecemos.

No Brasil, a internet se iniciou em setembro de 1988, quando o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), localizado no Rio de Janeiro, estabeleceu sua primeira conexão com a Universidade de Maryland, nos EUA. Já a internet comercial, começou a funcionar definitivamente apenas em 1995, por meio da Empresa Brasileira de Telecomunicações, a Embratel.

Meio século e muitos avanços depois, hoje a internet está completamente integrada ao nosso cotidiano. Para o professor Otaviano, foi a maior invenção da humanidade, “mudou a forma que a gente pega táxi, a forma que a gente pede refeição, a forma que a gente namora, a forma da gente viver!”. Em um mundo onde on e offline estão integrados, estar conectado se torna mais que um desejo, uma necessidade.

O último fórum mundial, como afirma Otaviano, definiu as tendências para os próximos quinze anos. Elas preveem que os aparelhos eletrônicos funcionem como uma extensão do corpo, o que não é muito diferente da nossa realidade, onde os smartphones estão sempre à mão. “Os aparelhos irão existir, mas eles serão vestíveis, é o termo que a gente usa. Nós estaremos usando isso de uma forma mais fácil, mais perto da forma humana”, finaliza. Confira o primeiro episódio da série:

Da Terra à Lua

50 anos da odisseia humana no espaço

 “Este é um pequeno passo para um homem, um salto gigantesco para a humanidade”. Essa foi a frase dita por Neil Armstrong quando pousou na Lua, em 20 de julho de 1969, e concretizou a meta americana anunciada pelo presidente John F. Kennedy sete ano antes, em discurso de 1962. Kennedy não queria apenas aceitar a aposta da corrida espacial, mas superar os feitos da União Soviética (URSS), que já havia colocado em órbita o primeiro satélite, Sputnik, em 1957, e mandado o primeiro homem ao espaço em 1961, Yuri Gagarin.

Mas o presidente americano não viu sua promessa se cumprir, pois foi assassinado em 1963. Lançada em 16 de julho, a missão Apollo 11 durou 8 dias e levou, além de Neil, os astronautas Buzz Aldrin e Michael Collins, que passaram aproximadamente 21 horas e meia na Lua, entre coleta de material – feita por Armstrong e Aldrin – na superfície para estudo, e permanência no módulo lunar, onde ficaram a maior parte do tempo. A chegada ao satélite foi transmitida ao vivo na TV e encerrou o capítulo da corrida espacial.

O desenvolvimento da missão trouxe grande desenvolvimento científico e tecnológico, em áreas como engenharia elétrica, eletrônica, mecânica e computação, com ganhos que vivemos até hoje, como afirma o professor de física da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Renato Las Casas. Para ele, levar o homem à Lua foi a maior jogada de marketing da história e “determinante para o desenrolar da Guerra Fria”, que colocava o desenvolvimento tecnológico, científico e militar como principal instrumento de propaganda das potências.

Contudo, apesar do êxito da missão, Las Casas afirma que, hoje, as missões Apollo não passariam pelos mínimos quesitos de segurança, pois “foi muito arriscado levar o homem à lua, e sua volta ao satélite não aconteceu após o fim das missões em 1972, por um motivo: não tinha nada o que fazer lá. Não havia a necessidade do homem ir à Lua, senão servir de campanha para os EUA na corrida espacial. A hipótese hoje, é que seja possível em alguns anos, a exploração do território lunar para mineração”, ressalta.

O feito, que completou 50 anos em 2019, serviu de inspiração para livros, filmes e alvo de diversas teorias conspiratórias nesse meio século decorrido. Entre as mais famosas, a de que as imagens divulgadas pela NASA, Agência Espacial Americana (na sigla em inglês), foram gravadas em estúdio. Teoria fundada em detalhes como movimentos de sombras ou ausência de estrelas no fundo, que Renato esclarece que não aparecem pelo tempo de exposição da câmera, e inclinação do território lunar.

Para aqueles que duvidam da peripécia humana no espaço, Las Casas desaprova e reforça que não há porque duvidar. E acrescenta que, mesmo com teorias conspiratórias e movimentos de contestação da ciência que cresceram ultimamente, como anti-vacina e terraplanistas, por vezes, alimentados por governos autoritários, é indispensável analisar friamente e ‘sem paixão’ se há coerência nos mesmos, pois, segundo o professor, “a ciência é o que mais se opõe ao autoritarismo”. Assista abaixo o segundo episódio:

Jornal Nacional

Como o programa mudou o telejornalismo nacional

Na noite do dia 1º de setembro de 1969, uma segunda-feira, entrava no ar o primeiro programa da televisão brasileira a ser exibido em todo território nacional. O Jornal Nacional, da TV Globo, estreava comandado por Cid Moreira e Hilton Gomes e iria mudar o modo de se fazer telejornalismo no país.

Entre os destaques da primeira edição, a saúde do então presidente, Arthur Costa e Silva; o Ato Institucional nº12, que transferia os poderes do governo a uma junta militar; o preço da gasolina e a vitória da seleção brasileira sobre o Paraguai, por 1 a 0, nas Eliminatórias da Copa de 1970, no México.

O jornal surgiu dos interesses de Roberto Marinho, dono da TV Globo, e do governo militar, que havia dado o golpe cinco anos antes, em 1964. O governo queria uma programação que pudesse unificar o Brasil para a divulgação de suas ideias e propostas e viram, na vontade de Roberto de criar um telejornal, o momento oportuno, como explica a professora de comunicação, Ângela Carrato.

Segundo Carrato, a ideia pôde ser colocada em ação porque o governo militar promoveu a implantação de torres de televisão em todo o país, o que viabilizou o processo. Roberto Marinho alcançou seu ideal sem custos, uma vez que a implantação das torres foi paga pelos cidadãos através de impostos.

Em termos de inovação de formato, o Jornal Nacional criou a chamada cabeça de rede, que faz a transmissão de um local, a matriz – no caso, o Rio de Janeiro -, ao invés de várias cidades. Ângela afirma que, como o programa trazia mais notícias do Rio e região sudeste, fez com que entrasse em declínio o jornalismo regional. A exemplo da TV Itacolomi, dos Diários Associados, em Minas Gerais, que trazia programação com ênfase local.

Há 50 anos no ar, manter atual um jornal que está há tanto tempo no ar, se adequando às novas linguagens, formatos e tecnologias, deve-se ao trabalho de renovação, sempre estando atento às novidades e, acima de tudo, ao monopólio que o Grupo Globo tem na imprensa brasileira. Por isso, aproveitam a condição de se atualizar com maior rapidez.

Para Ângela, em termos técnicos, o Jornal Nacional mostra qualidade, mas deixa a desejar no conteúdo. “Os principais assuntos do interesse da maioria dos brasileiros não estão presentes no Jornal Nacional, ou então abordados jornalisticamente de uma forma plural. Então, hoje, a gente tem uma qualidade de imagens ótima, de som ótimo, com possibilidades, inclusive, de interação, mas com programas muito ruins”, afirma.

Com a entrada do governo vigente, Ângela destaca os atuais desafios da emissora como um todo, entre a ausência de verbas oficiais e grande parte da população contrária à linha editorial do canal. “Se antes eles diziam, a esquerda critica a Globo, hoje, a direita também. Para resgatar o jornalismo de qualidade é preciso trazer pontos de vista diversos e promover a pluralidade de vozes na comunicação, a gente tem que buscar primeiro a democratização da mídia”, finaliza.



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