A Comunicação Pública é mesmo pública?

Um dos objetivos do setor é corresponder aos interesses de públicos mais vulneráveis, mas isso realmente acontece?

Por Ana Maria Rocha, aluna do 3º período de Jornalismo do UniBH

A comunicação está presente em nossas relações cotidianas e nós, como seres humanos, precisamos de uma forma de socializar. Através de diálogos ou dos meios de comunicação, por exemplo, torna-se possível, portanto, a existência de diversas formas de estabelecer tais contatos e, deste modo, temos, inclusive, a possibilidade de escolha de qual meio é mais favorável para diferentes situações.

Como uma alternativa prática, a comunicação pública está comprometida com a construção da cidadania e é o meio pelo qual a pessoas devem encontrar informações que as ajudem a garantir a liberdade e a autonomia da sociedade. Informar a população também é um dos seus grandes objetivos.

O professor do UniBH e coordenador da Comunidade de Aprendizagem em Comunicação e Audiovisual (CACAU), Elias Santos, durante 13 anos, trabalhou na Rádio Inconfidência – veículo de comunicação pública – como locutor, diretor artístico, superintendente institucional e presidente. Para ele, refletir sobre a capacidade de grande mídia em estabelecer diálogos com pessoas menos favorecidas é um dos principais tópicos que fazem da comunicação pública um ente tão importante para a sociedade.

“O alternativo sempre cabe na comunicação pública”, comenta.

Múltiplas ideias sobre o ofício acabam por despertar visões deturpadas sobre setores, como a diferença entre comunicação pública e comunicação governamental. O primeiro, como aponta Elias, serve para dar voz às pessoas mais vulneráveis, já o segundo age na instância de pessoas que foram escolhidas, democraticamente, para representar a sociedade.

O professor também pontua que a comunicação pública não se move a partir dos lucros e da audiência. “Em alguns momentos ela provavelmente deve ter alguma linguagem diferente da mídia comercial”, observa.

Grazielle Mendes é jornalista, mestre em Comunicação e, atualmente, trabalha na Rádio Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Segundo ela, a influência da mídia na comunicação pública independe do perfil e dos objetivos das instituições de comunicação pública, já que eles não podem ficar à mercê dos fatos que se repercutem na mídia comercial. A jornalista aponta que as casas/instituições são representadas como casas políticas, onde os deputados exercem o seu ofício, tendo a sua atuação nas notícias de maior impacto locais, nacionais e até mesmo internacionais.

Grazielle reforça que existem divisões dentro da comunicação pública, como a comunicação governamental. “Ela é produzida pelo poder executivo e os seus objetivos devem ser a transparência dos atos públicos, tendo a contribuição para a formação crítica dos cidadãos. Depende do perfil do governo para que esse tipo de atitude aconteça, porque a comunicação pode acabar se tornando um instrumento de publicidade estatal com a proximidade em comunicação política e não em comunicação pública”, ressalta.

Sobre sua experiência, a jornalista afirma: “o jornalismo legislativo tem uma cobertura específica, porque eles precisam transcrever o processo legislativo para a população”.

O professor da USP e jornalista, Eugênio Bucci, escreveu o livro “O Estado de Narciso”, no qual ele investiga os dilemas da comunicação pública. Com essa investigação, faz um questionamento aos atores envolvidos – máquina pública, mercado privado, partidos políticos, estrategistas – e faz algumas sugestões com base nas experiências de alguns países, inclusive da BBC de Londres.

A BBC de Londres é uma iniciativa de comunicação pública que faz um jornalismo tradicional e, em alguns setores, dá voz às pessoas que não têm voz na mídia comercial. Tudo isso é feito a partir do experimentalismo.

No Primeiro Congresso Interinstitucional da Universidade de Santa Cruz do Sul, parte das reflexões apontaram para questões políticas de organizações sociais. O regime democrático tem vários desafios e um deles é garantir espaço para o exercício das liberdades de imprensa e de expressão, ou seja, um lugar público com diversidade, plural e livre.

A EMPRESA BRASIL DE COMUNICAÇÃO

Segundo a Agência Brasil, a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), criada no ano de 2007, era responsável pela TV Brasil, sete emissoras de rádio e uma radioagência (agência de notícias de rádio), além da própria Agência Brasil. A EBC tinha a missão de fortalecer a Rede Nacional de Comunicação, onde reunia as emissoras públicas e educativas do Brasil. No ano de 2019, a EBC completou 12 anos e, nesse mesmo ano, ocorreu a fusão dos dois canais (TV Brasil e TV Nacional do Brasil – NBR). A TV Brasil mostrava temas que a mídia comercial não acolhia e a NBR estava relacionada às informações sobre os atos do governo, a população teve dificuldade de distinguir qual era de interesse público e qual era do interesse do governo.

Grazielle afirma que o foco da comunicação pública sempre deve se voltar para a contribuição e formação da cidadania, sobretudo ao explicar para cidadãos como é o funcionamento do Estado, das políticas públicas, mostrando também qual é a importância do papel como cidadão na construção e monitoramento da política.

“Com isso, a população precisa acompanhar e cobrar para que a comunicação pública esteja vinculada aos universos político, ideológico, partidário e eleitoral. A comunicação é um bem público que busca a transparência com a sociedade”, salienta a jornalista.



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