A demonização do feminino e o machismo escancarado

A mistificação do ser feminino, o alvo nas costas e a demonização da mulher diante das mídias sociais.

 

Por Virgínia Pedrosa, 6º período de Jornalismo do UniBH

Ligar a TV e encontrar figuras femininas despidas e rotuladas era muito comum no início dos anos 2000, taxadas como “gostosas” e “burras” sempre fomos trazidas a público como objetos, e se não nos encaixamos em nenhum desses tópicos logo caiamos para a terceira caixa: barangas e bruxas.

Quando procurado o significado de baranga e bruxa no dicionário, respectivamente são: de qualidade baixa, de pouco ou nenhum valor e boneca de trapos. Ou seja, novamente retratadas como algo pobre e raso.

A desumanização e a demonização da mulher é muito mais comum do que se imagina, e vai muito além do que meras acusações infundadas. Diante das novas tecnologias e da superexposição midiática, o linchamento virtual e o cancelamento tem sido pautas diárias vistas em canais de comunicação.

Há algumas semanas, manchetes e reportagens foram feitas de maneira sensacionalista sobre o caso da mulher e do morador de rua que mantiveram relações sexuais dentro de um carro em Planaltina.

Horas e mais horas de matérias retratadas de forma desrespeitosa e escancarada, com a narrativa de um dos participantes citando detalhes extremamente inconvenientes e deploráveis.
Qual é o real papel da mídia, quando dá voz apenas a uma das partes e que em momento algum voltaram seus microfones a tão excomungada “traidora”?

Até mesmo o direito de defesa foi retirado e a exposição demasiada é colocada como natural. Qual a razão de um dos acusados de adultério ser tratado como herói, enquanto a outra parte não é considerada nem mesmo vítima, mas vilã?

A maldição do ser feminino é algo que abrange não só mulheres cisgêneras como também transgêneras, a falta de empatia e respeito é colocada de forma tão vulgar e costumeira, que quando (ainda) nos damos ao trabalho de reclamar sobre o que nos afeta somos colocadas como chatas e “mimizentas”.

A demonização da mulher atinge todas as áreas sociais e econômicas da sociedade, desde os primórdios da história somos nichadas e colocadas em papéis que não nos caracterizam como algo bom. 

Usando de exemplo a história do ser mitológico Medusa, tratada como monstruosa e vil, a sacerdotisa foi estuprada por Poseidon e castigada pelo abuso por Atena. Transformada em uma criatura com cabelos de cobra e rosto horrendo, foi morta por Perseu que é posto como herói de uma história onde não há vilão, apenas uma vítima.

Saindo da questão mitológica e trazendo a pauta para a contemporaneidade, Luisa Sonza é uma cantora e compositora muito famosa atualmente. Luisa foi casada com o humorista Whinderson Nunes por dois anos, e desde o começo do relacionamento sempre foi tratada pelo público como interesseira e falsa. O casamento, findado no ano de 2020, foi e ainda é pauta para diversas discussões e fofocas dentro e fora da internet. A cantora é vítima de diversos ataques diariamente, e de alguma forma usou destes ataques como escada para a sua arte. Em seu último CD, Luisa trouxe as palavras mais ouvidas e lidas por ela nos últimos anos, quebrando a imagem de vítima e trazendo à tona a guerreira que sempre foi, usando como armadura aquilo que tanto lhe faz mal.

A mídia contemporânea está realmente tentando construir um novo aspecto sobre a visão da mulher? Estamos ganhando um espaço real para mostrarmos quem somos além de nossos rostos e corpos?

Ser mulher no Brasil ou em qualquer país do mundo é um prazer gigantesco, e que traz preocupações e responsabilidades tão grandiosas quanto. Seremos subjugadas e desmerecidas em todos os âmbitos das nossas vidas e muito provavelmente por toda ela.

Acredito que a luta, mesmo que lenta, é constante. Os direitos e o respeito não virão de mãos beijadas, mas virão.

 



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