Entenda como o alto nível de informações e a sociedade moderna contribuem para o transtorno depressivo
Por Amanda Ferreira, aluna de Jornalismo do UniBH
Sabemos que a depressão aflige a humanidade há muitos anos, mas recentemente esse cenário tem tomado proporções alarmantes. A doença foi considerada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como o “mal do século XXI”.
Em um relatório divulgado em 2017, a OMS revelou que a depressão afeta 322 milhões de pessoas no mundo. No Brasil, os números chegam a 11,5 milhões. Em 2030, ela será a doença mais comum, de acordo com o órgão.
Contudo, todo esse alarde também veio acompanhado de questionamentos. O transtorno sempre existiu, mas por que só recentemente os números aumentaram?
Depressão ou tristeza?
Silenciosa, ela ainda é incompreendida inclusive por quem sofre do problema. Uma das razões se deve ao fato da tristeza ser um dos sintomas, já que é uma emoção natural de qualquer ser humano. Afinal, quem não se sente triste?
Só que na depressão o sentimento não é passageiro. Ocorre com maior intensidade e frequência e não pode ser curado com ações simples como uma caminhada na rua, uma festa com amigos ou uma viagem no fim de semana para espairecer. Na depressão, há um desânimo contínuo e desinteresse pelas atividades que antes davam prazer.
Na maioria dos casos o indivíduo já possui uma predisposição genética a sofrer com o transtorno, entretanto, as situações enfrentadas diariamente servem como um gatilho e estimulam o desenvolvimento do quadro depressivo.
Como a sociedade atual favorece a depressão
O mundo que vivenciamos nos permite viver mais, mas com menos qualidade de vida. Existem cada vez mais remédios, pesquisas, tecnologias favoráveis ao desenvolvimento e a evolução, mas, em contrapartida, o ritmo das rotinas, a falta de qualidade do sono, de exercícios físicos, o trabalho excessivo e o uso exacerbado das redes sociais estão mais presentes em nosso dia a dia.
Segundo o diretor da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), o gene da depressão, por assim dizer, sempre esteve presente no ser humano, mas não encontrava tantas condições favoráveis para aparecimento da doença.
O grande acesso a informações, a comparação instigada pelas redes sociais e o impacto da vida do outro em nosso dia-a-dia, criam um terreno propício para o surgimento da depressão. Desta forma, é aceitável afirmar que ela é mais diagnosticada porque tornou-se mais comum.
A lucidez impõe sofrimento
Sri Prem Baba, no livro “Propósito, a coragem de ser quem somos”, traz reflexões mais profundas acerca das raízes da depressão. Segundo o autor, independente das nossas marcas pessoais, coletivamente estamos atravessando uma zona depressiva. O planeta passa por uma zona cinzenta.
Segundo o guru, a raça humana está começando a perceber a desconexão que levou a máxima degradação ambiental e dos valores espirituais e humanos. De certa forma, começamos a tomar consciência da nossa insanidade.
A quantidade de informações e conteúdos que temos disponíveis nos colocam constantemente alertas e inteirados sobre qualquer assunto ao redor do mundo, instantaneamente. Antes, tínhamos nossos momentos de leveza e despreocupação ao lado de quem amamos, mas hoje é quase impossível se desconectar.
Já parou para pensar como é ruim, como causa dor assistir aos noticiários sobre política ou ouvir sobre a inflação e as altas taxas de desemprego e realmente entender o que tudo isso representa? Como é incômodo ter consciência do que se passa no mundo?
Como já dizia Leandro Karnal, a ignorância é uma benção. É uma benção porque quanto mais você sabe, menos você vive. Quanto mais ciência temos do que acontece ao nosso redor, mais sofrimento isso gera.
Quantos políticos que roubam, cometem crimes e prejudicam a população e ainda sim, são queridos pelo povo. Ou líderes religiosos que vendem a “chave do céu” e os fiéis desembolsam imensas quantias acreditando ser verídico.
Talvez um dilema que enfrentamos na vida moderna seja ficar ignorante para não sofrer, ou ter lucidez e discernimento e ter que suportar a angústia do conhecimento?