Brasil se tornou referência no avanço de energia limpa na América latina, podendo chegar em 2050 com energia solar gratuita pelo país, de acordo com a EPE – Empresa de Pesquisa Energética.
Por Rafael Lopes e Raquel Miranda
Um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), Energia Limpa e Acessível, tem o intuito de incentivar os países, ligados à Agenda 2030, a oferecerem para a população serviços de energia com acesso universal, confiável, moderno e a preços acessíveis. O ODS 7 aborda a facilitação do desenvolvimento de atividades geradoras de renda baseadas no domicílio, o alívio da carga das tarefas domésticas e o investimento em fontes de energia renováveis.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ultrapassa a casa de dois milhões o número de pessoas consideradas sem acesso à energia no país. A má gestão do setor energético não é problema desconhecido para a população que, em 2001, sofreu muito com os danos causados pelo apagão e falta de distribuição de energia. Após a crise de abastecimento energético, o governo se viu obrigado a racionar o uso de energia e gasto de água em todo o país para tentar reverter os possíveis desastres que esse déficit poderia causar no sistema majoritariamente hidráulico, investindo também na criação de novas formas de captação e geração de energia limpa.
HORÁRIO DE VERÃO
Uma iniciativa que era usada pelo governo brasileiro para tentar economizar e reduzir o uso de energia hidráulica era o horário de verão, que foi utilizado pela primeira vez no governo Getúlio Vargas, e suspendido pelo atual governo do presidente Jair Bolsonaro (PL). O horário de verão é a prática de adiantar os relógios em uma hora nos meses da primavera e verão, com o objetivo de economizar energia nas regiões que mais recebem luz solar nesse período do ano.
Segundo o presidente Jair Bolsonaro, a escolha de suspender a prática do horário de verão seria para otimizar e aumentar a produtividade do trabalho, porém, em sua última declaração sobre o tema, foi cogitada a volta do projeto caso fosse interesse da população. “No momento, eu sei que para alguns setores aumenta o faturamento, porque as pessoas ficam mais tempo frequentando o comércio, isso a gente pesa aqui também. Mas no momento não tem clima, apoio popular, para a gente voltar com o horário de verão”, disse Bolsonaro durante coletiva realizada em agosto de 2021.
Especialistas do setor elétrico que são a favor da volta do horário de verão argumentam que, diante da gravidade da crise atual, qualquer economia de energia, mesmo que menor, é bem-vinda, além do horário de verão ser também benéfico para gerar mais venda no varejo e nos bares, segurança nas ruas e dar a possibilidade de as pessoas praticarem exercícios físicos com melhor aproveitamento de espaços públicos.
HÁ ALTERNATIVA
Ao longo dos anos, diversas iniciativas foram surgindo para disponibilizar para a população o acesso à energia sustentável e necessidades básicas. Dentre essas iniciativas, uma ação mudou a vida de milhares de pessoas: o projeto Litro de Luz. Uma organização com mais de 15 capítulos do movimento global Liter of Light, nascido nas Filipinas em 2011, inspirado na solução criada, em 2001, pelo mecânico brasileiro Alfredo Moser, a “Lâmpada de Moser”: garrafa pet no telhado, abastecida com água e alvejante, que por meio da refração proporciona uma iluminação equivalente a uma lâmpada de 60 watts.
A Litro de Luz teve início, no Brasil, em 2014, e já impactou mais de 17 mil pessoas diretamente com o apoio constante de 200 voluntários. Sempre ensinando e montando as soluções em conjunto com os moradores das comunidades mais vulneráveis do país, o projeto atua em centros urbanos e áreas rurais, incluindo comunidades tradicionais, como ribeirinhas, quilombolas e indígenas.
O projeto tem como missão melhorar a qualidade de vida das pessoas por meio de soluções sustentáveis de iluminação e empoderar agentes de transformação. Com isso, eles levam como principais valores o comprometimento, a sustentabilidade, o profissionalismo, a confiança e a empatia.
A organização ganhou grande visibilidade depois de ter aparecido na Rede Globo quatro vezes, nos programas Fantástico, Estrelas, Caldeirão do Huck, em 2019, e reprise do Caldeirão do Huck, em 2020. A assessoria da instituição ainda afirma que participar desses programas foi muito importante para o projeto, pois até nos tempos atuais têm empresas e doadores que os procuram por ter conhecido a iniciativa pela televisão.
Hoje, existem diversas outras fontes de energia disponíveis no mundo, faltando apenas investimento governamental para que fiquem disponíveis para a população com uma distribuição gradual e justa. Quando pensamos em energia e sustentabilidade, devemos considerar a situação de cada país, o que pode ser investido e a importância desses fatos nos dias atuais. O aproveitamento de recursos renováveis é essencial para a manutenção do nosso planeta de modo sustentável, garantindo um futuro com segurança energética para nossos familiares. Utilizar tipos de energia limpa, como a solar, significa pensar adiante e contribuir para que, a longo prazo, os índices de poluição e espalhamento dos gases de efeito estufa diminuam e não afetem a nossa atmosfera.
BH SUSTENTÁVEL
Em Belo Horizonte, a prefeitura da cidade investe cada vez mais em ações para combater o desperdício de energia, integrando energia renovável em toda cidade, buscando reduzir o impacto ambiental e econômico para os cofres públicos. Foi inaugurada, no dia 7 de maio, uma usina fotovoltaica que, segundo estimativas, poderá reduzir 20% do consumo do prédio da prefeitura, com economia mensal de 8 mil reais. Seguindo as projeções, a economia, em 10 anos, pode chegar a 10 milhões de reais. A usina de 65 kWp foi implantada pela empresa mineira Broenergy, selecionada por meio de edital do Fundo Municipal de Defesa Ambiental (FMDA), no valor de R$180 mil, e o projeto foi aprovado pelo Conselho Municipal do Meio Ambiente (COMAM). A troca do medidor foi realizada pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig).
A usina ocupa uma área de 400 metros quadrados, seguindo os cálculos das medidas do telhado da sede da prefeitura, um dos símbolos arquitetônicos da capital mineira, construído há quase 100 anos. Para o secretário-executivo do Comitê Municipal sobre Mudanças Climáticas e Ecoeficiência, Dany Silvio Amaral, a instalação da usina fotovoltaica na sede da prefeitura está em consonância com o Plano de Reduções de Emissões de Gases do Efeito Estufa de Belo Horizonte (PREEGE), cuja meta é reduzir em até 20% as emissões de gases de efeito estufa até o ano de 2030.
Segundo Guilherme Parreiras, diretor de marketing da Broenergy, responsável pela implantação das placas solares na PBH, “a importância da energia limpa, energia solar fotovoltaica, é que ela provém de uma fonte renovável, diria até inesgotável, o sol. Além disso, esses recursos utilizados estarão disponíveis para gerações futuras, a energia limpa não causa impactos, como o aumento do dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, não emite gases de efeito estufa e tampouco agrava o aquecimento global”.
A Broenergy começou a ser pensada há 6 anos, com dois amigos e engenheiros, André Novais e Thomas Chianca. Eles decidiram realizar uma viagem de volta ao mundo. Passaram por mais de 60 países em um ano e 9 meses. Além da parte cultural, a ideia da viagem era trazer um novo tipo de negócio para o Brasil e, dentro de tudo que eles observaram e aprenderam, enxergaram no fotovoltaico um caminho relacionado à sustentabilidade, economia e meio ambiente.
A empresa já tem mais de 450 contratos assinados, um deles com o hospital Paulo de Tarso, que fica no bairro São Francisco, em Belo Horizonte. De acordo com Gleidson Viana Barbosa, Coordenador de Facilities do hospital, com a implementação das placas solares, o valor gasto em energia reduziu pela metade, de R$ 40 mil para R$ 20 mil mensais. Sendo um hospital que atende, em média, 120 pacientes por dia, e não realiza procedimentos cirúrgicos, por ser focado em reabilitação e financiado por doações, a mudança da fonte de energia permite que o dinheiro economizado seja investido em melhorias e desenvolvimento de novas modalidades de atendimento.
EM CASA
Além de grandes empresas utilizarem energia solar, parte da população também já está conseguindo acesso à essa tecnologia, como José Leocádio Gomes, morador da Região Leste de Belo Horizonte. Gomes instalou as placas fotovoltaicas em sua residência na década de 90, para o aquecimento da água. Segundo ele, o valor kw/h que a CEMIG cobrava era um valor muito mais barato que nos dias atuais. “Quando eu fechei o contrato, eu estava construindo a minha casa, em 1995, e gostei da ideia já de início, de sustentabilidade, de não ter que utilizar energia elétrica para o chuveiro. Então, eu e meu cunhado resolvemos investir e fomos atrás da Pantho, uma das empresas pioneiras de BH em aquecimento solar, e resolvemos adquirir para não ter gastos”.
Gomes relata que, na época, o investimento era muito alto, porém não estava preocupado no retorno financeiro, e sim com a sustentabilidade e a tranquilidade de que, se ocorresse de um poste cair na rua, não ter que tomar banho gelado. Atualmente, o morador da capital tem um sistema de 600 litros de água aquecida pela placa solar residencial, além de também ter um sistema de aquecimento de piscina. Na piscina, Gomes usa uma tecnologia que veio de Israel. São placas de borracha que também ficam no telhado e precisam de um motor. Com isso, ele passa a água da piscina pelas placas de borracha e ela volta já aquecida. Outra forma sustentável utilizada por Gomes em sua residência é um ionizador de água. É um aparelho que fica na piscina e converte energia do sol em energia elétrica, gerando um positivo e negativo por baixo da aparelhagem, fazendo com que haja circulação de corrente pela água, o que mata fungos e bactérias da piscina. Segundo ele, houve uma economia de 70% com produto químico desde que adquiriu o ionizador.
A energia solar é totalmente limpa e renovável, não gerando nenhum resíduo ou impacto negativo ao meio ambiente. O tempo médio de vida útil dos equipamentos ultrapassa facilmente os 25 anos e exige pouquíssimas intervenções para manutenção. O Brasil, país tropical localizado entre a Linha do Equador, recebe uma quantidade absurda de radiação solar todos os anos, capaz de gerar mais energia do que poderíamos consumir, mas para que essa realidade seja disponível para todos, precisamos de mudanças nas políticas públicas e maiores investimentos nos setores, abrindo mão da utilização massiva de energias fósseis.