Até que ponto as estratégias de imagem são ferramentas de manipulação?

Como essa ferramenta essencial de comunicação pode ser usada nas mais diferentes situações

Por Emannuelly Gomes, aluna de Jornalismo do UniBH

É inevitável o (pré)julgamento que fazemos das pessoas quando as conhecemos. Logo neste primeiro momento, se estabelece uma comunicação visual em que o modo de vestir, a aparência, a linguagem corporal e as expressões faciais influenciam fortemente a impressão que teremos sobre a pessoa.

Esta leitura é resultado de um sistema de linguagem natural do ser humano. Isso é estudado na semiótica, que analisa linguagens não verbais e a construção de significado na comunicação como: símbolos, cores, roupa, música, aromas.

Desde os primórdios, com a arte rupestre, as imagens se apresentavam como forma de expressão, algumas vezes como representações visuais, outras como representações imaginárias. Ambas estruturas envolvem significados que alcançam os observadores, não existe imaginário sem que tenha inspiração no mundo concreto, os formatos coexistem.

Afinal, o que a semiótica tem a ver com as estratégias de imagem? Pois bem, o processo de consultoria de imagem é base de qualquer estratégia de imagem e faz o uso do estudo das significações para obter resultados efetivos. Esse procedimento é utilizado para permitir que o indivíduo consiga identificar o seu estilo pessoal, refletindo nele seus gostos, intenções e valores.

Sua essência será apresentada através do estilo pessoal, roupas, acessórios, maquiagem, gestos, penteados. Tudo isso interfere na comunicação não verbal, mesmo que involuntariamente, esta é a maneira que você se apresenta. Vai além da aparência, é uma forma de evidenciar seus posicionamentos e crenças em meio a sociedade, capaz até mesmo de sugestionar aos demais quais seus costumes.

Quer seja pelas roupas ou pelas expressões, a comunicação visual acontece o tempo todo. Impressões são formadas na mente das pessoas a partir do estilo pessoal de cada um. E para não passar a ideia errada, surge a consultoria de imagem, que se baseia no autoconhecimento, buscando destacar os pontos positivos e reafirmar as qualidades do indivíduo.

Muito mais que aprender a se vestir, a construção de uma imagem é bastante múltipla, envolvendo a essência do sujeito, seus costumes, suas preferências e principalmente o que ele deseja transmitir.

Com toda nossa plasticidade, temos o costume de acreditar que já vestimos o que gostamos. Em alguns momentos, nos inspiramos em influências que combinam com as nossas, e assim moldamos o nosso estilo. Isso acontece porque, de certa forma, já temos um nível de autoconhecimento. Em alguns casos, o sujeito possui domínio, em outros não há domínio, mas, há uma noção do que se quer.

No entanto, existem as crises, quando o sujeito não tem conhecimento sobre si e acaba passando a imagem errada de quem ele é, ou até mesmo quando o indivíduo possui certas características, mas quer escondê-las mostrando um outro lado. A crise de imagem coloca em questão a reputação dos indivíduos.

Nesses casos, a estratégia de imagem torna-se evidente. É comum vermos o instrumento ligado a criminosos que querem provar sua inocência diante do júri, assim foi com Suzane Von Richthofen, Elize Matsunaga, dentre outros.

O episódio mais recente envolve Monique Medeiros, professora e mãe suspeita de participação na morte de seu filho Henry Borel Medeiros, de 4 anos, junto com o padrasto da criança, o vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho (Solidariedade). No dia 08 de março, na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, o casal deu entrada no Hospital Barra D’Or, alegando que o menino havia sofrido um acidente desconhecido. No entanto, segundo o laudo do Instituto Médico-Legal, Henry Borel já chegou sem vida ao hospital. O que causou sua morte foi hemorragia interna e os diversos danos no fígado ocasionados por um ato violento.

A investigação colheu evidências que comprovam que Henry sofria maus tratos e agressões recorrentes. Diante disso, o padrasto e a mãe estão presos como suspeitos de homicídio duplamente qualificado – com emprego de tortura e sem chance de defesa para a vítima.

Antes de ser presa, nas redes sociais, Monique esbanjava estampas de onça, decotes que destacavam seus seios, roupas coladas e brilhantes. Uma mulher extremamente preocupada com a beleza, que adorava se exibir.

Não foi por acaso que ela apareceu para prestar depoimento no inquérito, que apura a morte do filho, desprovida de características que remetessem ao seu estilo passado. Sem vaidade, sem decote, sem brilho, sem nem poder se mostrar. Em uma das aparições, Monique teve que se planejar e trocar de roupa ao menos duas vezes, pois foi orientada a deixar de lado sua extravagância e parecer uma mulher simples e humilde, para causar uma boa impressão à promotoria. Pois bem, isso é estratégia de imagem. No caso da acusada, não sei se vai dar muito certo, porque seu comportamento tem que condizer com a imagem, e ela parece que se esqueceu de mudar alguns modos presunçosos.

Entretanto, as técnicas de imagem não são exclusivas de casos extremos e pesados, elas estão mais presentes no nosso cotidiano do que imaginamos, principalmente quando o marketing está envolvido. Um ótimo exemplo é a união da cantora e empresária Anitta com a startup brasileira de serviços financeiros, Nubank. Em julho, Anitta se tornou membro do conselho da empresa. A ideia é que ela ajude a startup a desenvolver produtos e planos de comunicação.

Alguém que conhece superficialmente o trabalho da cantora, apenas shows e clipes, até pensa que essa mistura não pode dar certo, que a imagem dela não corresponde aos ideais da empresa. Estão enganados. Anitta é, hoje, uma das mulheres mais influentes do mundo. Ela apresenta em seu estilo a jovem, poderosa, sensual, autêntica e atual, que ela é. Por outro lado, temos a Nubank, que desejava sair do tradicional e se comunicar com o público mais jovem. O resultado dessa parceria foi uma divulgação maravilhosa, em que Anitta seguiu com a essência de sua identidade visual, de modo que apenas adaptou a estratégia de imagem desejada frente aos seus objetivos.

Assim, é possível perceber que a estratégia de imagem é uma ferramenta essencial de comunicação. No entanto, em momentos de crise, se você pensa em utilizar estratégias que modifiquem sua aparência, seu visual e a forma com que você se apresenta às pessoas, para além da sua essência, escondendo quem você realmente é, o propósito não é genuíno. Se torna manipulação.



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