Tempo seco pode agravar doenças respiratórias e causar desidratação
Por Luis Otávio Peçanha
Belo Horizonte passa por um inverno marcado pela queda da temperatura e, principalmente, pela baixa umidade relativa do ar. Durante as últimas semanas, a população da capital tem sido alertada pela Defesa Civil a respeito do tempo seco, que, neste período, tem atingido índices abaixo de 30%, o que é considerado estado de alerta.
Essa época mais fria traz uma queda na umidade relativa do ar, que é determinante para o agravamento de doenças respiratórias (rinite, asma e bronquite, por exemplo), irritação nos olhos e na garganta, ressecamento da pele e outros problemas que exigem nossa atenção.
Rodrigo Santana Fantauzzi (42), médico otorrinolaringologista, explica que a baixa umidade influencia negativamente nas vias aéreas superiores e inferiores, em que há um ressecamento das mucosas, que ficam expostas a antígenos irritantes, que podem causar crises de asma, bronquite e rinite. Além disso, existe o risco de exposição a partículas que podem induzir uma resposta inflamatória, dependendo do ambiente em que a pessoa se encontra, seja residencial ou laboral.
“O muco acaba ficando muito espesso, dificultando a mobilização das secreções e causando a manutenção do contato com essas partículas que acabam piorando o processo inflamatório. Além disso, a imunidade local das mucosas respiratórias fica comprometida, deixando o paciente mais suscetível a processos infecciosos”, explica.
Principais sintomas
Durante o tempo seco é comum encontrarmos pessoas que apresentam uma certa irritabilidade nas vias respiratórias, sensação de falta de ar – causado pelo clima seco, que dificulta a respiração, congestão das vias aéreas superiores, rinorreia (secreção nasal), gotejamento nasal do muco espesso, além de espirros e coceira no nariz.
Rodrigo também alerta sobre sintomas que podem estar ligados a uma umidade relativa do ar ainda mais baixa ou, também, ocasionados em casos de pacientes com condições respiratórias. “Tosse bem seca, irritativa e persistente, falta de ar ou chieira torácica em casos mais graves. Há também queixas de sensação de garganta seca, formação de crosta no nariz, sangramento nasal por conta do ressecamento, além de apresentar processos inflamatórios como dor de garganta ou dor para engolir.”, ressalta.
Blyse Sara (28), médica otorrinolaringologista, chama atenção, também, para outras regiões que são diretamente afetadas pelo tempo seco por ficarem em contato direto com o ar, sendo eles: a pele, os olhos, a mucosa da via respiratória (que é o revestimento do nariz), garganta e pulmões.
A otorrinolaringologista compartilhou a dica que ela considera a mais importante: a lavagem nasal. Para ela, essa dica é essencial para indivíduos que possuem problemas respiratórios. “Essas pessoas precisam fazer lavagens nasais com soro com bastante frequência para prevenir a piora de seus problemas e crises de rinite, asma ou outras doenças”, ressalta.
Blyse compartilhou, em nosso instagram de Jornalismo, uma receita de soro caseiro e algumas dicas para fazer a lavagem nasal corretamente. Então, se você sofre com tempo seco e precisa de ajuda para respirar melhor, clique aqui para ver nossa postagem.
Cuidados com o corpo e com o ambiente
É muito importante manter alguns cuidados básicos para amenizar os sintomas causados pelo tempo seco. Umidificar as mucosas é a melhor medida para garantir uma boa respiração.Nestes casos, o recomendado é fazer a limpeza das narinas com soro fisiológico, que auxilia também na diminuição da irritação das vias nasais.
Além disso, o copo (ou a garrafinha) de água é um grande aliado, pois precisamos ingerir mais quantidade de líquido neste período para evitar a desidratação. Tal cuidado pode ser utilizado na hora da alimentação, pois, além da alimentação saudável agir diretamente no sistema imunológico, principalmente contra infecções e processos inflamatórios, a ingestão de frutas e vegetais ricos em água pode auxiliar na hidratação do corpo. Melão, melancia, laranja e abobrinha são boas pedidas no tempo seco.
Com relação aos cuidados com o ambiente, Rodrigo salienta que é de extrema importância o manter arejado, pois a circulação de ar diminui o contato com agentes infecciosos. “O uso de vaporizadores, umidificadores e a nebulização com soro fisiológico são alternativas muito úteis para umidificar as vias aéreas”, completa. Por fim, o otorrinolaringologista frisa a importância de manter o ambiente limpo, evitando o acúmulo de poeira, mofo, a proliferação de fungos e, até mesmo, diminuindo a presença de ácaros no local.
Em casos de indivíduos que apresentam doenças respiratórias, Rodrigo sugere o acompanhamento de um otorrinolaringologista ou pneumologista, pois, dessa forma, é possível evitar que ocorram agravos dos casos durante o tempo seco. “O ideal é sempre ter um médico acompanhando para tratar as exacerbações e controlar, evitando o agravamento dos quadros de pacientes com sintomas mais acentuados”, complementa.
Para Blyse, manter a umidificação dos ambientes é a melhor maneira de manter as áreas sensíveis do corpo saudáveis, principalmente usando umidificadores. “Aconselho deixar em torno de 3 a 4 horas por dia ligados, pois usar durante toda a noite, por exemplo, pode aumentar a proliferação de mofo no local. Caso não tenha umidificador, deixar bacias com água ou toalhas molhadas pela casa também auxilia”, sugere.
A médica também aconselha os cuidados com a pele, pois, com a baixa umidade relativa do ar, ela fica muito ressecada. “É válido evitar exercícios físicos nos períodos de sol mais intenso, quando o tempo estiver seco, e procurar manter os ambientes umidificados. Evitar banhos quentes e demorados, que ressecam ainda mais a pele, também ajuda”, completa.
Os sintomas na rotina
Felipe Augusto Siviero (34), autônomo, tem asma considerada leve e alega que, em períodos de variação climática e baixa umidade relativa do ar, apresenta dificuldade e desconforto respiratório, nariz entupido e coriza.
Durante essa época, Felipe usa duas estratégias para se manter bem perante o tempo seco: hidratação com mais frequência e uma toalha úmida (ou usar um difusor de água) para umidificar o ambiente na hora de dormir.
Para ele, a necessidade de manter o corpo hidratado e a respiração comprometida são as principais dificuldades que o tempo seco causa. “Sinto dificuldade em me exercitar, principalmente exercícios aeróbicos, uma vez que o tempo seco compromete a minha respiração. Além disso, meus olhos ficam secos e irritados e meu nariz costuma entupir com mais frequência. Isso compromete minha rotina pois acaba gerando desconfortos no meu corpo”, observa. .
Luiza Ianino (17), estudante, também tem asma e, durante períodos de tempo seco, sofre com falta de ar e resfriados. “Normalmente tomo bastante vitamina C e às vezes coloco um umidificador no quarto”, explica.
“Como interfere diretamente na minha respiração e fico bem resfriada, tenho mais dificuldade para treinar e fico mais desanimada para fazer as coisas normais da minha rotina, como estudar”, ressalta.