Death Stranding: uma metáfora para a nossa atual realidade

Com participação de grandes atores, o game parte de uma premissa inédita, em mundo fantástico, em que cada detalhe pode ser relacionado aos recortes do nosso mundo.

Por Thiago Toledo, aluno do 5° período de Publicidade e Propaganda

Videogames são, para muitas pessoas, um hobby. Para outras, uma paixão. Mas existem aquelas pessoas que utilizam-se dos videogames como ferramentas para contar histórias incríveis. Esse é o caso de Hideo Kojima, idealizador do game Death Stranding, que traz uma proposta bastante alternativa com relação ao que se vê na indústria atualmente.

O objetivo do jogo é reconectar a humanidade, estabelecendo uma rede de comunicação e envio de arquivos chamada Rede Quíral. Para concluir tal objetivo, controlamos o portador Sam Porter Bridges (Norman Reedus), entregando cargas para os afastados abrigos subterrâneos, que servem de moradia para o que restou da raça humana. O maior desafio para o jogador é algo que é simples em todos os outros jogos: andar, superando o terreno acidentado e destruído pelos eventos catastróficos do Death Stranding, que pode ser traduzido como “encalhe da morte”.

Os eventos do jogo se passam cerca de 50 anos após o desastre, que foi caracterizado pela união do mundo dos vivos e dos mortos, ocasionando em uma série de explosões de grande proporção, deixando crateras, chamadas de obliterações, por todo o mundo, dizimando cidades inteiras. A partir destes eventos, as chuvas passaram a acelerar o envelhecimento de objetos, construções e pessoas, cada morte passou a gerar uma nova obliteração, e a alma de cada pessoa morta passou a se tornar uma criatura encalhada (BT, Beached Thing), seres fantasmagóricos que vagam pelas áreas de chuva. A única forma de impedir novas obliterações e o surgimento de novas BT’s é realizando a cremação dos cadáveres dentro de 48 horas.

O denso mundo apresentado pelo game nos remete bastante ao período em que estamos vivendo, em que os perigos lá fora nos obrigam a buscar refúgio em nossos abrigos seguros, onde até as ações que costumavam ser simples hoje demandam muita superação e esforço. Estamos mais vulneráveis, isolados e sensíveis. Todos os dias lutamos por uma estabilidade atrelada aos padrões da vida antes da pandemia, subestimamos o peso do nosso psicológico na nossa produtividade e nas nossas relações e vamos nos fechando cada vez mais em nós mesmos, da mesma maneira que a fragmentada sociedade de Death Stranding, e podemos aplicar em nossas vidas a mesma solução aplicada a ela: as conexões.

Seja nas cenas da história ou na própria jogatina, as conexões são a parte mais importante do game. Em jogo, mesmo com a impossibilidade de se encontrar com outros jogadores, existe uma mecânica online cooperativa inovadora, onde os jogadores podem compartilhar armários de equipamentos e colaborar em construções pelo mundo para que todos consigam alcançar seus objetivos. Por exemplo, ao descer por um penhasco utilizando uma corda e deixando-a para trás, um jogador está automaticamente auxiliando os outros que passarão pelo mesmo penhasco futuramente e utilizarão a mesma corda.

As conexões também estão presentes na história do protagonista. Por questões de seu passado, Sam desenvolveu afefobia, fobia a contato físico e afetivo, encontrando na solitária vida de portador um refúgio. A superação da fobia de Sam se deve bastante à relação paternal que ele desenvolve com o seu BB (bridge baby, em português, bebê ponte), a quem ele dá o nome de Lou, um recém-nascido retirado do útero de sua mãe após ela sofrer morte cerebral. Os BB’s sobrevivem dentro de cápsulas e são utilizados como ferramentas, acompanhando os portadores em suas jornadas, uma vez que eles possibilitam a quem carrega sua cápsula enxergar as entidades citadas anteriormente.

A relação de Sam e Lou foi muito além de ajudá-lo na superação de sua fobia e a entender mais sobre si mesmo. Sam restaurou sua fé na humanidade, se arriscando para reconectar o mundo, reconhecendo ser este o único meio para que haja uma adaptação à realidade vivida por ele. São as conexões que nos fazem ser quem nós somos e são elas que irão nos ajudar a passar pelos tempos difíceis, independentemente do quão prolongados estes sejam. A mensagem que fica após o fim do jogo é de esperança, paciência e perseverança para vencermos os desafios de cada dia, um passo por vez.



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