O medo de ficar por fora saciado no passar do cartão
Por Laura Mourão
Sempre me vi como uma pessoa consumista. Não só falando de compras, sempre tive em mim uma vontade insaciável de consumir tudo aquilo que me chamava atenção. Desde muito nova, maratonava todas as séries disponíveis, os filmes que estavam em cartaz e sempre gostei de ir ao shopping conferir as novidades. Acredito que muitos desses costumes sempre foram uma forma que usava para me distrair de minha rotina.
De repente, uma pandemia nos obrigou a ficarmos isolados em casa por mais de sete meses, juntamente com nossos traumas, ansiedade e medo do incerto futuro que teremos pela frente. As séries e filmes já não me prendiam mais, sair com meus amigos e família não era mais seguro nem mesmo recomendado. Então, como eu poderia preencher esse vazio que eu sentia? Sempre que eu pensava nisso, alguma vozinha apitava em minha cabeça dizendo: ‘Por que não fazer compras online? Aquela loja que você tanto gosta está na promoção!’
E como um passe de mágica, satisfaço meus impulsos e preencho esse vazio, mas também, como o mesmo passe de mágica, esse vazio reaparece. Assim, impulso atrás de impulso, começo a comprar e consumir conteúdos na internet compulsivamente, afinal, está tudo ali, prontinho para ser consumido em um passar de cartão.
Era Ifood toda semana, assinatura em todas as plataformas de streaming, e renovei todo meu guarda-roupa, sempre com a desculpa de que precisava de um mimo para seguir a quarentena com o mínimo de saúde mental e aliviar toda a tensão que estava sentindo.
Um dia, em meio ao meu consumo de informações pela internet, me deparei com um artigo sobre a síndrome de FOMO – expressão em inglês
que significa fear of missing out, ou, no bom português, medo de ficar por fora. É um termo usado para descrever a ansiedade gerada pela sensação de estarmos deixando passar coisas importantes entre os dedos. E foi aí que me liguei do que estava fazendo a quarentena inteira.
O medo e a ansiedade, causados pelo isolamento social, e a incerteza do futuro, me colocaram em uma “pira” de que se eu deixasse qualquer coisa para depois, eu poderia nunca mais ter aquilo. Aquele velho ditado de que só se vive uma vez tomou conta de mim por completo e acabou tirando meu discernimento entre aquilo que eu realmente precisava e aquilo que eu só queria por mero capricho. A lição que tomei com isso é que, seja no online ou no offline, precisamos de mais cuidado na hora do consumo. Sabendo discernir o que vai agregar valor ao nosso cotidiano ou o que vai ser apenas mais uma fonte de pressão psicológica. Selecionar o que fica e descartar o que for desnecessário.
Foto: Laura Mourão