Sustentabilidade é questão de sobrevivência, e também é um novo requisito do consumidor
Por Letícia Sudan
O perfil de consumo tem mudado em escala mundial. A forma como o consumidor adquire um serviço ou bem não se limita mais aos padrões históricos. Um exemplo disso é que hoje, para se informar, não é preciso aguardar a chegada do jornal impresso ou o telejornal das 20 horas, já que o smartphone está nas mãos da maioria da população e, assim, o acesso às notícias do mundo inteiro está disponível a qualquer momento. Segundo dados apresentados na 19a Pesquisa Global de Entretenimento e Mídia, realizada pela PwC, a expectativa para 2022 é que 82% dos brasileiros se conectem à internet móvel, o que irá mudar ainda mais o comportamento das pessoas na hora de consumir.
Impulsionado pela pandemia, o e-commerce ganhou espaço em 2020 no Brasil. Segundo dados da 42a edição do Webshoppers, um estudo elaborado semestralmente pela Ebit|Nielsen, em parceria com a Elo, o faturamento do e-commerce cresceu 47% no primeiro semestre do ano, a maior alta em 20 anos. Este processo de consumo em um clique, que gera acesso e proximidade com as pessoas, também cria o efeito de conscientização em massa. As tribos podem se comunicar mesmo a longas distâncias e criar padrões de cobrança quanto às diversas demandas sociais e políticas, como a inclusão, diversidade e empoderamento. Assim, algumas empresas estão se preocupando mais com a saúde, questões ambientais e até mesmo a representatividade.
Segundo a Organização das Nações Unidas – ONU, mais de dois bilhões de toneladas de lixo, no mundo inteiro, são produzidas por ano. Dessa maneira, algumas organizações estão buscando formas mais sustentáveis na hora de produzir, como a economia circular.
O QUE É A ECONOMIA CIRCULAR
A economia circular baseia-se em uma nova forma de pensar no futuro e no relacionamento com o planeta. É um modelo econômico que incentiva a reciclagem e a preservação do meio ambiente, propondo uma mudança em toda a maneira de consumir, desde a relação com as matérias-primas até os resíduos.
Esse modelo econômico é contrário ao linear tradicional, que defende a utilização e descarte. O conceito circular prioriza três etapas a mais do que a anterior, além de extrair, transformar, utilizar e descartar, ela também reduz, reutiliza e recicla, como explica o infográfico abaixo.
“A economia atual está organizada linearmente e precisa ser organizada de forma circular, considerando a reestruturação da política tributária, evitando bitributação nos resíduos que se transformam em produto, retirando restrições ambientais que dificultam o reuso e reciclagem de determinados resíduos. O importante é que resíduos podem se transformar em matéria-prima e/ou insumos, e passam a integrar um produto final com regras específicas. Outro ponto importante é reduzir o preconceito do consumidor de estar consumindo um produto que possui um determinado volume de material reciclado ou reutilizado”, explica Wagner Soares Costa, gerente de Meio Ambiente da Federação das Indústrias de Minas Gerais – FIEMG.
Os recursos naturais estão cada vez mais escassos e as pessoas estão mais preocupadas com o consumo consciente, dessa forma, o que é o esperado e ideal, para o consumidor do futuro, é que qualquer negócio – seja de grande, médio ou pequeno porte – siga esse modelo de economia circular. Segundo a Worth Global Style Network – WGSN, dentre as tendências que o consumidor tem adotado estão: revolução das compras pelos dispositivos móveis, a importância dos sentimentos, a economia da confiança, preocupações climáticas, antigas gerações e o fim da posse.
De olho nesse consumidor, em outubro de 2019, a Unilever, empresa multinacional, prometeu em um evento que iria reduzir pela metade o uso de plástico em suas embalagens até 2025. Ou seja, ela pretende remover mais de 100 mil toneladas de embalagens plásticas, recolhendo e coletando as que foram vendidas. No início de 2020, uma de suas marcas iniciou um projeto de venda automática em uma estação de Nova York, que aceita embalagens de plástico usadas em troca de um sabonete, a Dove busca conscientizar seus clientes e incentivar a reciclagem.
CAPACITAÇÃO NECESSÁRIA PARA A INDÚSTRIA
A indústria representa 20,9% do PIB do Brasil, segundo pesquisa feita pela Confederação Nacional da Indústria – CNI. Dessa forma, o setor está em primeiro lugar dos mais importantes para o crescimento do país. As empresas industriais também contribuem com inovação e evolução tecnológica. Além disso, dados fornecidos pela CNI mostram que 76,4% delas desenvolvem algum tipo de economia circular.
“A partir dessa nova postura do consumidor, as indústrias estão se organizando de forma sistêmica e sistemática na estruturação de um programa de economia circular que inclui o design do produto, a redução da geração, reuso e reciclagem de resíduos.” – Wagner Soares Costa, gerente de Meio Ambiente da Federação das Indústrias de Minas Gerais – FIEMG
Esse novo modelo econômico tem mudado o modelo mental da indústria, que passa a ser um modelo que produz mais com menos, aumentando a produtividade, tanto da mão de obra como do uso de material proveniente da natureza. Dessa maneira, novos empregos são gerados, que exigem novas habilidades e conhecimentos. “A academia vai ter de fornecer um técnico que possua conhecimento para criar soluções para os dilemas que existem entre produção e consumo versus preservação do meio ambiente. Não apenas formar pessoas que prezam pela preservação, mas que propõem soluções que reduzam o impacto das atividades humanas sobre a natureza”, reflete Wagner Soares.
Esse novo modelo é de grande importância, por causa do aumento da produtividade econômica e redução do impacto ambiental. Segundo Wagner, a FIEMG está sempre de olho nessas mudanças no padrão de consumo da sociedade e atua no sentido de mobilizar e capacitar as indústrias para essa nova economia. Wagner explica que “ela [a FIEMG] possui um programa de implementação de economia circular em distritos industriais e, a partir de novembro de 2020, criou a rede mineira de economia circular, envolvendo as cadeias de produção no estado. A primeira fase é o levantamento de ações executadas pelas empresas que se enquadram no conceito de economia circular, a segunda fase é estabelecer, com base neste levantamento, um programa sistêmico e sistemático de economia circular na empresa, definindo procedimentos, indicadores de circularidade e monitoramento dos resultados obtidos”.