Facebook como comunidade imaginada

Por Matheus Rocha – 8º período de Publicidade e Propaganda UniBH

 

Nos últimos anos, a evolução da internet nos conduziu à Web 4.0 e ao aparecimento da comunicação sem fio e online. Cada vez mais interativa e colaborativa, tal mudança fez com que a linha que separava a interação entre máquinas e humanos fosse cada vez mais tênue.  Seguindo essa tendência tecnológica, o Facebook, desde a sua criação, define-se como um produto/serviço que tem por missão “dar às pessoas o poder de criar comunidades e aproximar o mundo” (Facebook, 2021).

A primeira versão da mídia social surgiu em 2003, como uma rede exclusiva da Universidade de Harvard que combinava elementos de um anuário comum a algumas funções para os perfis dos usuários, como upload de fotos e informações pessoais acadêmicas, permitindo aos estudantes se conectarem uns aos outros de acordo com o curso, organização social e dormitórios, criando uma rede online de amigos. No entanto, alguns dias depois da criação da rede, que conseguiu 20.000 visualizações só nas primeiras quatro horas online, o Conselho de Administração da Universidade acusou Zuckerberg de ter violado as regras de segurança da informação e de invasão de privacidade. Assim, a primeira versão do Facebook foi excluída.  

Mas, em 2004, Zuckerberg criou, oficialmente, o thefacebook.com, que veio a se tornar o Facebook como conhecemos hoje, alcançando um número exponencial e significativo de usuários, interligando milhões de pessoas em todo o mundo, mudando a forma como nos comunicamos, descobrimos, colaboramos e compartilhamos informações.  

Como espaço comum de interesses, necessidades e metas semelhantes para a colaboração, partilha de conhecimentos e interação, a influência desta rede, em termos sociológicos, tem um impacto cada vez mais significativo no comportamento e na vida de um número crescente de pessoas. 

À medida que continua sua expansão, adquirindo influência mundial e onipresença online, a rede conquista, além de usuários, negócios e empresas que investem cada vez mais para criar comunidades e publicizar ainda mais sua imagem corporativa em um espaço compartilhado, visando a geração de valor, bem como a monetização de produtos e serviços. 

Comunidades Digitais

Um exemplo demonstrativo da importância da plataforma na formação da sociedade contemporânea está relacionado a Primavera Árabe (2011), quando o Facebook assumiu um papel importante na derrota do presidente Hosni Mubarak, uma vez que os manifestantes utilizaram a rede social para organizar e dinamizar as rebeliões e protestos contra o governo. 

Apesar deste avanço, o processo estrutural de comunidades na plataforma não se resume apenas a aspectos positivos, visto que o capitalismo cria uma eclosão quase ilimitada de disseminação de informações, em que tais conteúdos crescem e se propagam mais rápido, expondo uma mecânica social acompanhada de desinformação e compartilhamento de fake news, por exemplo. 

Nessa perspectiva, uma reflexão apresentada por Benedict Anderson (1989) aponta que essas bolhas sociais/comunidades são tão limitadas quanto soberanas. Para o autor, isso ocorre na medida em que discursos, em uma perspectiva histórica e política, montam um cenário para a nação moderna modelada pelos meios de comunicação. Isso significa que os padrões de conduta, antes “obrigatórios”, e o policiamento do comportamento são substituídos pela potencialidade devastadora empreendida muitas vezes nesse novo ambiente social. 

A tendência é que o ritmo dessas mudanças só aumentem, pois em certa medida as transformações do mundo contemporâneo impactam significativamente na forma que os usuários utilizam a plataforma. Mesmo assim, a empresa tem sofrido uma queda significativa de receita, devido a recente ubiquidade em relação a plataforma no que diz respeito às limitações tanto para anunciantes, quanto para usuários em virtude de pancadas que vem sofrendo em sua reputação, além de boicotes pela forma como lida com discursos de ódio e desinformação. Tal cenário coloca em cheque preocupações de segurança da informação e lei de dados, bem como as métricas não confiáveis devido à falta de balizadores sólidos e precisos sobre o desempenho de anúncios. 

Nessa linha, Jenkins, Green e Ford (2015) propõem uma série de debates acerca do uso e das relações entre público, produtores e canais de conteúdo da Web 2.0 e da propagabilidade de conteúdo. Os autores apresentam, no livro Cultura da Conexão,  um conceito mais reformista do que revolucionário, visto que as estruturas capitalistas moldam a circulação, a distribuição e a produção de conteúdos de mídia e que a maioria das pessoas não tem e não podem ter outra opção além da cultura comercial. 

O que significa, nessa medida, é que o Facebook precisa reconhecer a capacidade do público para propagar, moldar e reconfigurar a ecologia midiática, uma vez que os modelos de negócio e de marketing levam em conta uma cultura cada vez mais participativa.

Dito isto, considerando, como um todo, todas essas práticas sociais e culturais, correlatas à inovação e tecnologia, constituem o que os autores chamam de cultura ligada em rede/comunidade. 

Por fim, à medida que a cultura instiga a mudança na plataforma, é importante buscar uma possibilidade de mídia inclusiva, democrática e equitativa. Pois, com o crescimento da comunicação em rede, principalmente associado às práticas da cultura participativa, alguns pontos para criar uma experiência que melhor sirva os propósitos e a cultura do Facebook podem criar um recorte que vislumbre os contornos de sua comunidade.

Tal ação pode acontecer através da valorização da atividade de membros que ajudem a gerar interesse por determinadas marcas ou franquias, assim como a circulação transmidiática com o potencial de movimentar a audiência de uma visão periférica de conteúdos para um engajamento mais ativo. Nessa perspectiva, é possível demonstrar, por exemplo, como o público se torna parte do mercado ao serem transformados  em defensores da marca, definindo, dessa forma, os usuários como “trabalhadores engajados”.



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