Não Olhe Para Cima; entenda sobre o filme que divide opiniões nas redes

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Uma produção recheada de estrelas, um tema apocalíptico e um roteiro polêmico. Tem como dar errado? Parece que sim.

Por Amanda Ferreira

Lançado pela Netflix às vésperas do Natal, “Não Olhe Para Cima” junta essas três situações para, em poucos dias, atingir uma repercussão quase recorde. Dividindo a opinião pública e dos críticos nas redes sociais, o longa-metragem do diretor Adam McKay nos deixou como opção pertencer a dois grupos: os que acham a produção genial e aqueles que acreditam ser superficial.

Divulgação/Netflix
O enredo

A obra conta a história de Randall Mindy (Leonardo DiCaprio) e Kate Dibiasky (Jennifer Lawrence), dois cientistas que descobrem um cometa em rota de colisão com a Terra. A dupla conta com a ajuda do doutor Oglethorpe (Rob Morgan) para iniciar um tour pela mídia.

Essa busca incessante em tentar alertar a população sobre o que está por vir os leva ao escritório da presidente Orlean (Meryl Streep) e do seu filho, o chefe de gabinete Jason (Jonah Hill). As cenas a seguir revelam o desinteresse generalizado pela catástrofe.

A descrença dos personagens nos remete ao que ocorre atualmente com a pandemia e a eficácia das vacinas para contê-la, mas, apesar das semelhanças, inclusive com o contexto sociopolítico e cultural brasileiro, “Não Olhe Para Cima” foi escrito bem antes da Covid-19. A ideia do diretor era gerar críticas à falta de atenção planetária dos estadunidenses com problemas ambientais, como o aquecimento global e, para representar esse objetivo, é que entra a metáfora do meteoro.

Outro ponto abordado é a inversão de prioridades, em que o relacionamento de um casal de influenciadores é mais relevante que um evento catastrófico. O roteiro ainda é responsável por provocar situações que debatem extremismo político e a corrida de bilionários em nome do crescimento individual.

Divulgação/Netflix
A escolha pela sátira

A obra aposta em humor, e esse é um dos pontos que tem suscitado debates. Apontando como confuso e sem foco, muita gente não entendeu a linguagem do filme.

A sátira é compreendida como uma técnica literária ou artística que ridiculariza um determinado tema, de forma simples e exagerada, deixando claro para o público quase que de imediato sua intenção. Ainda sim, podemos encontrar nas redes argumentos como “filme para inteligentes” ou, “se você não gostou é porque não entendeu”.

Isso me lembra o “Conto da Roupa Nova do Rei”, em que um alfaiate trapaceiro combinou de produzir uma roupa para o rei e, como não tinha feito nada, o convenceu de que ela estava ali em sua frente, mas só pessoas inteligentes podiam enxergar o tecido. Como o soberano não queria ser visto como menos capaz ou taxado de burro, ele e todos do reino agiam como se realmente existisse as vestes.

Talvez seja isso, mais um efeito manada generalizado em que a maioria compartilha da mesma opinião, mas prefere ser reconhecido como “entendido” e intelectual.

Bom, é inegável a necessidade infindável de obras que escancarem o panorama que enfrentamos, e o filme conseguiu isso. Através de um humor ácido, o longa transmite a mensagem: “não queremos que vocês vejam a verdade, queremos que continuem cegos e se interessem cada vez menos pelo conhecimento”, mas, digamos que duas horas e vinte e três minutos para dizer o que todos nós já sabemos, é um pouco demais. O recado poderia ser facilmente dado em noventa minutos.

Assistir a “Não Olhe para Cima” é uma opção, mas transitar pela internet e se deparar com debates sobre o filme nestes últimos dias é inevitável. A produção reforça a polarização que vem tomando conta das redes sociais, com interpretações e críticas diversas.

De um lado, exaltações à forma como buscou abordar o negacionismo e o tratamento político de questões sociais, de outro, opiniões ao redor de uma obra confusa e pouco engraçada. Dentre elas, fico com a segunda!



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