Novas variações da Covid-19 podem significar prolongamento da pandemia

  • Sociedade

Infectologista explica que, mesmo com novas variantes, vacina ainda é confiável

Por Alexandre Santos, aluno do 7º período de Jornalismo

Em decorrência da crise sanitária ocasionada pelo novo coronavírus, em março de 2020 o mundo entrou em isolamento social pela primeira vez, na tentativa de deter o rápido alastramento da SARS-CoV-2, vírus responsável pela Covid-19. Hoje, um ano depois, já com as campanhas de vacinação em andamento em cerca de 50 países ao redor do globo, a mutação do vírus, embora já esperada, é motivo de preocupação para as autoridades. 

A mutação de um vírus acontece da seguinte maneira: quando em contato com uma célula, o vírus se multiplica e espalha suas cópias no organismo hospedeiro, mas, no processo, acontecem falhas na cópia do genoma (conjunto de genes de um ser vivo) que impactam no comportamento do agente infeccioso, dando origem às novas variantes do vírus original. 

A mutação pode favorecer ou não a potência do vírus. Nesse caso, as variantes fracas são eliminadas, prevalecendo apenas as mais fortes. Para entender melhor o caso, podemos usar o consumo de antibióticos para exemplificar. Quando uma pessoa é infectada por uma bactéria e o médico lhe recomenda o uso de um antibiótico, o insumo vai agir para a eliminação do micróbio daquele organismo. Entretanto, se o paciente não fizer o uso correto do antibiótico, o medicamento apenas eliminará as bactérias mais fracas, seguindo o processo de seleção natural, o que beneficia a ação das bactérias mais fortes, que agora estão imunes ao antibiótico. 

O médico infectologista do Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIE) da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), Felipe Julião, explica que as variações do coronavírus se dão por meio de mutações de cepas diferentes, que caminham de locais para locais, tendo como veículo o trânsito das pessoas. “Quando uma pessoa infectada por uma cepa do vírus, que é menos resistente, tem contato com uma outra pessoa que tenha uma cepa mais resistente, ela cria uma espécie de “super vírus”, e cada vez que ele sofre mutação, ele se torna mais resistente”, ilustra. 

Questionado se é possível atrasar o aparecimento de novas variações da Covid-19, Felipe destaca que o distanciamento social é o único caminho para conter o contato entre pessoas e, por consequência, a mutação do vírus. “O fechamento de alguns estabelecimentos que promovem a aglomeração de pessoas é uma alternativa”, pondera. 

O médico também enfatiza que a vacinação é confiável, mesmo com o aparecimento de novas variações do coronavírus, e ressalta que a vacina não serve para evitar a contração do vírus, mas para que o acometido não adoeça com as formas graves da doença. Julião acrescenta que o surgimento de novas variações da Covid-19 significa um prolongamento do período pandêmico.

“A pandemia está espalhada por mais de um continente, esperava-se que a situação fosse controlada em um período menor, mas como houve variações da doença e não foi possível conter o vírus a tempo, ele cria mais resistência e manifesta novas características. Vai ser preciso mais um cuidado e novas pesquisas sobre as mutações do vírus para conter o avanço da doença”, finaliza o infectologista.  

Variante Brasileira da Covid-19

Em janeiro de 2021, 18 pacientes acometidos pela Covid-19, em Manaus (AM), foram transferidos para o Hospital Regional de Uberaba para receberem cuidados hospitalares. Após um criterioso exame de sequenciamento genético, realizado pela Fundação Ezequiel Dias (Funed), foi detectada a presença da nova variante do coronavírus, batizada de “P1”, em seis pacientes.

A nova linhagem contém uma composição única de mutações que ocorrem na proteína responsável pela entrada do vírus nas células humanas. A análise laboratorial dos pacientes acontece por orientação do Ministério da Saúde (MS), que determina a testagem de pacientes transferidos entre estados em que já foram identificadas a mutação do vírus SARS-CoV-2.  

A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES/MG) informa que continuará realizando exames de vigilância genômica para identificar uma possível circulação de novas variantes do vírus em Minas Gerais. 

Em nota, a Funed explicou:

“O Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) agora irá realizar o sequenciamento de amostras de turistas vindos da região norte do país, como parte do projeto de sequenciamento que a Funed integra junto ao Ministério da Saúde. A SES-MG, por meio da Funed, continua realizando a vigilância genômica para identificar a circulação da variante no estado”. 

Rede Nacional de Sequenciamento Genético para Vigilância em Saúde

O estudo tem como principal objetivo aumentar a quantidade de informações sobre o vírus, como sua estrutura e organização. O Laboratório Central de Saúde Pública da Fundação Ezequiel Dias (Lacen/Funed) será o responsável por representar Minas Gerais na pesquisa.

“Além de Minas Gerais, a Funed será responsável por realizar o sequenciamento de outros cinco estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro e Espírito Santo. O trabalho será feito por amostragem”, detalha nota emitida pela fundação. 

A Funed também já iniciou o sequenciamento das amostras referentes ao projeto da Rede Nacional de Sequenciamento Genético para a Vigilância em Saúde, criado pelo Ministério da Saúde.

 



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