O alto preço da visibilidade

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Por que a cantora Anitta é alvo dos mais diversos tipos de críticas?

Por Giullia Gurgel, estudante do 3° período de Jornalismo no UniBH

Toda celebridade que apresenta grande visibilidade na mídia torna-se alvo dos mais diversos tipos de críticas. Porém, esse número de comentários aumenta quando a celebridade em questão é mulher. Coincidência? Não!

Atualmente, Anitta é a prova viva disso. A artista brasileira vem ganhando muita popularidade no mundo inteiro com canções em outros idiomas. Recentemente, a cantora fez história ao chegar no Top 1 global do Spotify com a música Envolver, se tornando a primeira artista brasileira a alcançar essa marca.

Entretanto, a popularidade e o reconhecimento internacional de Anitta causam inúmeras críticas e ataques, fazendo com que o trabalho da artista, de fato, seja o último critério avaliado. Os comentários abordam, sobretudo, as roupas da cantora, letras de músicas apelativas e coreografias sensuais.

Gostar ou não do estilo musical não é o problema, é direito de cada um ter opinião própria. Mas vale a reflexão: por que você pensa desta forma? É realmente pelas músicas ou por ela ser uma mulher bem-sucedida que “rompe” as regras impostas pela sociedade?

Foto: Reprodução/Twitter Anitta

O contexto social incentiva a competição e rivalidade entre mulheres, o que só reforça o machismo e a opressão. Atacar a artista pelo tipo de roupa, falas “apelativas” e coreografias sensuais na tentativa de desqualificá-la ou rebaixá-la reitera o pensamento retrógrado da sociedade atual. Além disso, não diz respeito só à Anitta, as críticas se dirigem a todas as mulheres.

Usar roupas curtas, ou qualquer outro tipo de vestimenta, não é crime e não permite qualquer julgamento ao caráter e à dignidade da mulher. Sobre falas “apelativas”, as canções da cantora não ofendem, nem atacam outras pessoas, pelo contrário, as letras reforçam a ideia de que a mulher é, sim, a única dona de seu próprio corpo e não precisa da aprovação masculina. 

Logo, o termo “apelativo” não é utilizado de maneira correta, já que, de acordo com a definição do dicionário, isso significa utilizar recursos excessivos ou antiéticos para chamar atenção.

Portanto, é fundamental a desconstrução das ideias e julgamentos de que para obter sucesso na vida é necessário “desbancar” outra mulher.

Hipersexualização das divas pop

O conceito de cultura pornificada é usado pela pesquisadora Gail Dines. Segundo a autora, a onda atual de imagens pornográficas soft-core, aquelas que têm componentes eróticos, mas não explícito, normalizou o visual da pornografia na cultura cotidiana.

O apelo cada vez mais agressivo da nudez e da sensualização do corpo feminino das artistas do entretenimento tem uma origem histórica. Por isso é necessário entender que a sexualização das divas pop acontece desde a década de 1960, e atualmente essa questão é cada vez mais visível.

Para além das questões de apostar e distorcer conceitos de emancipação feminina, a hipersexualização das cantoras pop desperta outra preocupação entre especialistas: a influência provocada no público alvo dessas artistas, que são, em sua maioria, meninas jovens.

Anitta está no topo e na boca do povo. Críticas não faltam, especialmente em relação à hipersexualização de uma artista que é referência para adolescentes e crianças.

Acontece que Anitta não causa a hipersexualização de adolescentes, ela é a consequência da cultura pop que há décadas é sexualizada. 

Anitta não inventou a hipersexualização, ela também é vítima de uma questão social. A cantora não foi a primeira nem será a última a mudar suas origens para se transformar no que o mundo queria ver.

Coachella

Na Califórnia, Anitta se apresentou, dia 15 de abril, no palco principal do maior festival de música pop do mundo, o Coachella.

A cantora comandou o ‘baile da pesada’ no festival com roteiro que citou músicas de Jorge Ben Jor e Carlinhos Brown entre sucessos como ‘Vai malandra’, ‘Garota de Ipanema’ e ‘Bola rebola’.

Chegando de moto e usando uma roupa que representa as cores da bandeira do Brasil, verde, amarelo e azul, a ‘Girl from Rio’ usou uma projeção que trazia referências às grandes favelas e também aos grandes paredões de som para fazer parte de seu cenário. Além disso, Pabllo Vittar e Diplo estavam presentes na plateia para prestigiar a cantora.



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