O que vai ser do setor cultural brasileiro após a pandemia?

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Após um ano turbulento, cultura brasileira se reinventa e abraça as novas tendências do digital

Por Alexandre Santos, aluno do 7° período de Jornalismo

Os teatros estão vazios, assim como as salas de cinema permaneceram por um longo período, e os grandes festivais de música agora se restringem ao ambiente virtual, sem o calor humano, sem a proximidade do artista com seu público. No último ano, nos vimos diante de uma série de mudanças e adaptações impostas pela pandemia do novo coronavírus, que foi a principal responsável por uma brusca reinvenção na forma como interagimos socialmente, trabalhamos e consumimos a arte.

O setor cultural no Brasil gera 2,64% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, e é responsável por cerca de um milhão de empregos formais diretos, segundo dados da Federação da Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN), baseados em pesquisas Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Grande parte desses artistas vivem da venda de sua arte, ou seja, de bilheteria. Por essa razão, quando há restrição na circulação de pessoas, como a realidade que presenciamos, esses profissionais são diretamente afetados. Apesar do Brasil ser um país rico em diversidade cultural, a classe artística ainda sofre com o pouco investimento do governo e com ausência de apoio. Todavia, artistas de todas as classes conseguiram enfrentar esse período turbulento com força e permaneceram em produção. Algo que, historicamente, a classe faz de melhor: medidas de resistência.

Com a campanha de vacinação em andamento, há expectativa de um possível retorno à normalidade e, consequentemente, o retorno do público para as apresentações artísticas. Mas a grande questão é: após um longo ano de restrições e temor pelo contágio da Covid-19, as pessoas vão voltar a frequentar os eventos sociais como antes?

A estudante de Design de Ambientes, Fernanda Gontijo, discute a complexidade que envolve o debate acerca do retorno.

“Eu acho que o retorno das atividades desse tipo é um ponto muito complexo, porque ao mesmo tempo que causa aglomeração, aumentando o contágio e as mortes, o cenário tem gerado muitos prejuízos culturais para o país. Por exemplo, a Escola Nacional de Circo, com essa situação toda, acabou perdendo o prédio, e era a única alternativa de ensino circense pública no país”, argumenta.

Moradora do bairro Nova Suíça, localizado na Região Oeste de Belo Horizonte, Josiane de Pinho relata que não voltará a frequentar teatros, cinemas ou outros eventos culturais em um primeiro momento, pois ainda se mantém receosa quanto a um possível contágio pela Covid-19.

“Preciso zelar pela minha saúde e pela saúde da minha família em primeiro lugar, então, mesmo depois desse momento crítico da pandemia, ainda estarei restrita, uma vez que as vacinas não têm 100% de eficácia e gostaria de verificar como a sociedade estará reagindo a elas”, explica.

A pandemia trouxe, em sua primeira fase, uma mudança radical no estilo de vida das pessoas, tendo, por consequência, o afastamento das relações externas que estabelecemos no nosso cotidiano. É o que pondera a psicóloga Inácia Aparecida, moradora do bairro Jardim América, também na Região Oeste de Belo Horizonte. Inácia explica que as pessoas começaram a buscar por uma “nova realidade”, mas a pandemia trouxe um novo modelo de relacionamento com o mundo, consigo mesmo e com os outros. “É perceptível um sentimento geral de insegurança que dificulta chegar a essa normalidade”, pontua.

Questionada sobre como será o retorno às atividades e eventos sociais, de um ponto de vista que considera a saúde mental, a profissional argumenta que, a princípio, as pessoas vão estar cautelosas, afinal, ainda há uma certa insegurança por parte da população quanto à eficácia da vacina, além do fato de que muitos já  internalizaram os hábitos e rotinas no último ano. “Espirrar, por um bom tempo, será visto como algo de alerta: alguém pode dissipar uma enfermidade”, cogita a psicóloga, “quem vai deixar de pensar em como ir a um cinema? Entrar e sentar sem pensar se a sala foi sanitizada. Teremos um novo tempo, com pessoas pensando diferente”.

A ARTE NO DIGITAL

A especialista em aprimoramento técnico de Ballet Clássico, Bete Arenque, conta que, mesmo antes do período pandêmico, já era uma defensora do modelo de aula virtual. A professora lembra que percebeu a importância do digital quando uma aluna, de projeto social promovido pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), escreveu em uma das atividades de aula que seu maior desejo era ter um celular.

Arenque acredita ser papel do professor acompanhar as tendências e encontrar o melhor caminho para se comunicar com o aluno. “Se mudou a forma de pensar, o educador tem que entender como acessar as pessoas nesse contexto”, argumenta.

Em 2011, Bete conseguiu a aprovação, na Lei Estadual de Incentivo à Cultura de MG, para criação do Centro Cultural Virtual, inaugurado em 2012, que tem por objetivo levar informação sobre a dança e sobre a arte para as pessoas. “Eu queria, primeiro, abrir um site que trouxesse informações de dança e das artes, em geral, e testar a aula de dança online”, relata.

Bete Arenque conta que, em 2019, tinha apenas uma aluna virtual, e com a chegada da pandemia, em 2020, este número cresceu exponencialmente. “Para não falir, muitas escolas tiveram que se adaptar. Todos perceberam que é possível ensinar por meio de uma videoconferência, levando leveza e técnicas”, explicou a bailarina.



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