Imediatismo, interatividade e maior conexão com o público são fortes marcadores do novo modo de produzir conteúdo nas multiplataformas.
Por Alexandre Santos, aluno do 8º período de Jornalismo do UniBH
Em uma rápida pesquisa no dicionário, podemos encontrar a seguinte definição para Jornalismo: “atividade profissional que visa coletar, investigar, analisar e transmitir informações periodicamente ao grande público”. O papel social do jornalista, apesar de nem sempre valorizado, é de suma importância para as sociedades, afinal, cabe a eles não só buscar por informações relevantes para a comunidade, mas também apurar, checar e divulgar as notícias de modo que seja possível confiar no que está sendo veiculado.
Por isso, desde os primórdios das civilizações, podemos encontrar diferentes formas e manifestações jornalísticas. A primeira produção conhecida trata-se de uma espécie de diário oficial, instituído pelo imperador Júlio César, em 59 A.C, a Acta Diurna, que apresentava registros do governo para a população. Um pouco mais a frente, por volta do ano 1430, o alemão Johannes Gutenberg inventou a prensa, conhecida como tipos móveis, o que possibilitou a confecção de periódicos.
Mas, por que estamos falando sobre isso? Com o passar dos anos, o modo de fazer jornalístico, a fim de cumprir sua principal missão, passou por diversas mudanças para conseguir se adaptar às linguagens contemporâneas de cada época. O Jornalismo Digital representa uma evolução dessa atividade, que agora pode viajar em grande velocidade, ser atualizada instantaneamente, além da possibilidade do material ser enriquecido com recursos multimídia, como vídeos, animações ou arquivos de áudio.
Daniele Franco (28), jornalista do jornal O Tempo e da Rádio Super, avalia a velocidade como o principal fator que diferencia o “fazer jornalístico” digital da forma tradicional, afinal, a internet fortalece a urgência da publicação de fatos e ocorrências. Se outrora, com os jornais impressos, as notícias saíam no dia seguinte aos acontecimentos, hoje, devem estar nos portais, com atualizações, em tempo real.
Para ela, o advento digital no Jornalismo tem muito o que somar, até porque possibilita uma maior conexão com o público, que agora pode interagir, enviar conteúdo, sugestão de pauta, bem como vídeos, fotos e depoimentos. “Por exemplo, tem um grupo de motoristas que se comunicam dentro de um grupo de WhatsApp para enviar informações sobre a situação das rodovias”, explica.
O jornalista Vitor Fórneas, do Portal BHAZ, também menciona a agilidade como um dos principais pontos a se destacar no Jornalismo Digital, mas faz a ressalva de que isso aumenta a responsabilidade pela checagem dos fatos. “A internet cobra rapidez, no entanto, acredito que precisamos ficar atentos quanto a isso. De nada adianta noticiar primeiro sem a devida apuração”, pondera.
O jornalista também ressalta o potencial que a internet confere ao Jornalismo de que diversos conteúdos sejam produzidos e tenham seu alcance ampliado, chegando a um alto número de consumidores. “O portal onde trabalho, por exemplo, tem um número grande de leitores em outras cidades do país. Vai além do público de Belo Horizonte e da região metropolitana”, ressalta.
Uma nova forma de se comunicar
As etapas básicas de trabalho de um jornalista, como o olhar de pauteiro na busca por narrativas, apuração, distanciamento, curadoria e constante busca por temas que sejam de relevância para a sociedade, permanecem as mesmas no digital, porém agora os profissionais da comunicação possuem novos recursos para isso. O surgimento de ferramentas tecnológicas que possibilitam e, de certa forma, facilitam o exercício da profissão, transformou não apenas a forma como consumimos uma informação, mas também como os conteúdos são produzidos.
Se, outrora, era preciso que o profissional se deslocasse a campo para averiguar pessoalmente as informações e realizar entrevistas, hoje, tudo isso pode ser feito virtualmente com o auxílio, apenas, de um celular. No Jornalismo Digital, além do imediatismo, a interatividade é uma das principais características. Com a imensa quantidade de portais e blogs que surgem a todo momento, atrair e “prender” o público-alvo é fundamental para obter bons resultados na web.
Para entender melhor esse cenário, o modelo adotado pela ainda recente no país, CNN Brasil, pode ser um excelente exemplo. A emissora de Jornalismo, que fez sua estreia no Brasil no dia 15 de março de 2020, nasceu com a proposta de ser uma produtora multiplataforma de informação. Sendo assim, a CNN possui uma única equipe de jornalistas, orientados a tratar a produção de conteúdo para as mídias sociais com o mesmo empenho e dedicação do que é veiculado na televisão.
Na emissora, os mesmos jornalistas presentes na tela da TV assinam as reportagens publicadas no portal da instituição e podem ser facilmente encontrados em podcasts e produtos direcionados exclusivamente para as mídias sociais. Além disso, a emissora, que é por assinatura, tem sua programação transmitida na íntegra e em tempo real na internet, e pode ser assistida gratuitamente no seu canal oficial no YouTube.
Sobre isso, o jornalista Vitor Fórneas, do portal BHAZ, que já iniciou sua carreira em um órgão 100% online, pondera que tais mudanças agregam valor e credibilidade para instituições de comunicação, tendo em vista que agora o consumidor pode não apenas ler o produto final de uma reportagem, mas acompanhar de perto o que está acontecendo. “Quando fazemos a cobertura de uma coletiva, por exemplo, temos a possibilidade de transmiti-la ao vivo, ou seja, o digital possibilita que mais pessoas possam acompanhar o que está ocorrendo e não apenas o repórter que está na cobertura. Sem falar que o digital facilita a comunicação entre os membros da equipe e o público”, compartilha.
A jornalista Daniele Franco salienta que, apesar das mudanças decorrentes da popularização dos conteúdos para a web, a essência do jornalismo permanece a mesma e explica que a maior diferença, ao seu ver, é o formato da publicação. “É sobre pensar formatos que caibam dentro daquele lugar onde a informação vai ser publicada. Com a internet nós conseguimos ver o público, pensar nele, criar a ideia da persona que vai consumir e escrever pensando nisso. Já no impresso eu sinto uma frieza muito maior em relação a isso, mas a essência continua a mesma”, compartilha.
Daniele Franco também ressalta que é cada vez mais importante trazer um olhar digital e conectado ao público, que saiba falar a “língua da massa”. Ela pondera que a linguagem de fácil entendimento aproxima o leitor e contribui para o consumo de notícias que geram senso crítico. “Devemos assumir esse papel de educação das pessoas, de explicar porque determinadas notícias são importantes, como funciona e como aquilo afeta a vida das pessoas. Para chegar ao ponto em que nós vamos conseguir enfrentar a desinformação, é preciso ter o cuidado de pegar “na mão das pessoas” e ter cuidado com o público”, salienta.