Para socióloga Avelin Buniacá, a luta não ocorre por uma razão somente indígena

Indígena aponta os maiores desafios enfrentados pelos povos originários

Por Amanda Ferreira, aluna do 7º período de Jornalismo, e Mylene Alves, aluna do 5º período de Jornalismo.

Aqui no Brasil, comemoramos o Dia do Índio, anualmente, em 19 de abril. A data nasceu do Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, que ocorreu em 19 de abril de 1940, em Patzcuaro, no México.

A reunião tinha como objetivo promover um encontro de líderes indígenas para assegurar seus direitos. Na ocasião, foi proposto que os países da América adotassem o dia 19 de abril como o Dia do Índio.

A data foi oficializada através do Decreto-lei nº 5.540, de 2 de junho de 1943, como uma forma de enfatizar a importância da população indígena na formação do país.

Afinal, antes da chegada dos portugueses ao Brasil, o local era amplamente povoado por comunidades indígenas, mas infelizmente a crueldade e ganância humana fizeram com que muitas tribos fossem dizimadas e parte da cultura indígena fosse esquecida.

MOTIVOS PARA COMEMORAR?

Desde 1500, até a década de 1970, a população indígena brasileira decresceu acentuadamente e muitos povos foram extintos.

Segundo dados divulgados pela FUNAI (Fundação Nacional do Índio), no ano que Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil, a população indígena totalizava 3 milhões de pessoas.

Já de acordo com o último Censo Demográfico, realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2010, o número caiu para 817,9 mil indígenas declarados, vivendo em zona rural ou urbana.

Esta população, em sua grande maioria, vem enfrentando uma acelerada e complexa transformação social, necessitando buscar novas respostas para a sua sobrevivência física e cultural e garantir às próximas gerações melhor qualidade de vida.

A LUTA INDÍGENA 

Alguns dos principais problemas enfrentados atualmente são: invasões e degradações territoriais e ambientais, exploração sexual, exploração de trabalho, inclusive infantil.

Dentre todas essas problemáticas, a mais danosa é a perda de terras, de florestas. A preservação do meio ambiente é uma condição fundamental para a reprodução da vida, nos moldes tradicionais, das comunidades indígenas. 

Para entender melhor esse cenário, conversamos com a socióloga e professora Avelin Buniacá Kambiwá, indígena da etnia Kambiwá. “O maior desafio dos povos indígenas é tentar barrar o retrocesso que tem vindo através de ataques, de projetos de lei, e proposições anti indígenas”, conta ela, que citou também a existência de projetos específicos para grilagem e mineração, que acabam por contribuir com o avanço do garimpo e degradação de terras indígenas.

“A gente entende também que, quando nos colocamos nesse lugar, estamos defendendo a mãe terra, tentando barrar o desmatamento, tentando proteger o mundo do aquecimento global e da destruição de modo geral”, conclui a socióloga. 

O GENOCÍDIO INDÍGENA

Além da violência às suas terras, os indígenas precisam resistir dia após dia ao genocídio presente no país, um problema que pode acontecer direta ou indiretamente, através de privações. 

Como quando o atual presidente vetou trechos de um projeto de lei que colocavam como obrigação do governo garantir acesso a água potável para indígenas e outros grupos de extrema vulnerabilidade.

Perguntamos a Avelin se existe um apoio ao qual possam recorrer e ela nos contou que, quando há, o apoio é internacional. “Houveram algumas denúncias contra esse desgoverno, o responsabilizando por genocídio”, afirma. 

Sobre as ações dos próprios povos afetados, a professora nos disse que muitos deles se organizam formando unidades de resistência. E ressalta que há também uma necessidade de que o brasileiro não indígena se entenda como parte dessa luta. “Nós não estamos lutando por uma razão somente indígena. Nós somos povos originários desse país, quando falamos de terra indígena, estamos falando de floresta em pé, de direito à água e a comida sem veneno”. 

O ACAMPAMENTO TERRA LIVRE

O Acampamento Terra Livre é a maior mobilização indígena do país e já acontece há 17 anos. Desde 2020, por decorrência da pandemia, vem acontecendo online. 

O evento reúne movimentos sociais, organizações representantes de diferentes povos indígenas e é organizado pela APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil). Normalmente acontece em Brasília, quando levam suas reivindicações e suas pautas, buscando barrar os retrocessos e propostas destrutivas para esses povos e, também, para a natureza.

Além da importância política, a indígena de etnia Kambiwá fala também sobre os efeitos sociais e identitários do acampamento. “Ali a gente encontra parentes de outras etnias, das nossas próprias etnias, a gente dança, canta, reza, luta, reivindica junto, colocamos as pautas de cada território, e dali a gente sai mais íntegro enquanto uma noção de povo, de pertencimento enquanto indígenas”, explica.

OS DESAFIOS DA RESISTÊNCIA INDÍGENA NA CIDADE

Historicamente, existem dois conceitos de povos indígenas: os aldeados, que vivem dentro das aldeias, e os desaldeados, que vivem fora das aldeias, e é desta forma que o governo delimita como será o tratamento desses povos.

“Uma pessoa não deixa de ser brasileira por estar no exterior, da mesma forma um indígena não deixa de ser indígena por estar fora de seu território,” pontua Avelin.

A indígena ainda comenta que existe uma tentativa de apagamento das identidades, uma deslegitimação que os acompanha quando estão fora do território. “As pessoas pensam que não são indígenas de verdade. Que por estar usando celular deixou de ser indígena, por usar roupa… Sem entender que as culturas são dinâmicas e nós podemos estar em todos lugares sem deixar de ser quem somos,” explica a socióloga.

OUTROS MOVIMENTOS 

Quando questionada sobre movimentos importantes no meio indígena, a socióloga Avelin Buniacá citou o “Vacina Parente”, que encoraja a vacinação contra Covid-19 aos indígenas que já estão tendo acesso, e o “Vota Parente”, que aconteceu no período eleitoral de 2018, incentivando o voto. 

Ela conta também sobre o empoderamento indígena em várias pautas, como a luta anti-racista, o combate à violência contra a mulher e ao feminicídio. “A gente não está apenas na demanda por demarcação de território, nós estamos em todas as lutas que permeiam a questão da vida, dos direitos humanos. Nós temos desmarcado telas, demarcado salas de aulas, qualquer espaço que nós estejamos, seja na cidade ou na aldeia, onde temos dito que vida indígenas importam!”, finaliza Avelin.



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