Representatividade: mulheres como protagonistas do jornalismo esportivo

Representatividade, segundo o dicionário, tem como definição: 
“Qualidade de alguém, de um partido, de um grupo ou de um sindicato, cujo embasamento na população faz que ele possa exprimir-se verdadeiramente em seu nome”.
“Qualidade de uma amostra constituída de modo a corresponder à população no seio da qual ela é escolhida”. 

Rafaela Silva, aluna do 8° período de Jornalismo do UniBH

A discussão sobre a representatividade, nos dias de hoje, nunca foi tão presente em diversos ambientes e classes sociais. Porém, aqui, o destaque será para a mulher como jornalista esportiva, mais especificamente, narrando e comentando jogos de futebol em importantes veículos de comunicação.

Em uma sociedade tão machista por natureza, a discussão sobre a presença da mulher em setores e segmentos, até então, majoritariamente dominados por homens, tem sido bastante recorrente, seja na pausa para o cafezinho, na hora do almoço ou em uma conversa sobre a rodada do campeonato de futebol do último final de semana.

O enfrentamento ao preconceito e a busca por respeito e espaço no mercado de trabalho são marcas registradas das mulheres ao longo do tempo. Hoje, se temos profissionais tão competentes e inspiradoras à frente do jornalismo das mais importantes emissoras, devo registrar um nome de suma importância: Regiani Ritter, a primeira mulher a cobrir futebol no Brasil, na década de 1980.

Em diversas entrevistas concedidas, ela contou o quão desafiador foi ingressar em um segmento profissional totalmente dominado por homens e que, por enfrentar desafios muito maiores do que eles, precisou traçar algumas estratégias para se sobressair com um trabalho satisfatório em meio a tanto preconceito.

Diversos nomes ajudaram a escrever os capítulos desta história de representatividade, que instigam orgulho e inspiração para as gerações surgentes e, muitas são as profissionais que fazem a diferença. São mulheres corajosas e guerreiras, que enfrentam comentários e críticas maldosas, originados do machismo, para seguir abrindo caminho às futuras comunicadoras. Seria incoerente da minha parte exaltar as narradoras e comentaristas sem mencionar a base da profissão: o jornalismo esportivo. Alguns dos nomes a serem citados, como exemplo, são: Karine Alves e Janaína Xavier, ambas, apresentadoras dos canais SporTV, no “Troca de Passes” e “SportvNews”, respectivamente, e a Renata Fan, à frente do “Jogo Aberto”, na TV Bandeirantes.

Recentemente, na época da Copa do Mundo de Futebol (2018), os canais Fox Sports Brasil lançaram um projeto com o objetivo de selecionar, exclusivamente, uma mulher para narrar alguns dos jogos. Renata Silveira se saiu tão bem que foi a escolhida e narrou três jogos, dois deles disputados pela seleção masculina brasileira e a grande final entre França e Croácia. Logo depois do mundial, Renata foi contratada para a grade fixa de narradores, sendo a primeira mulher a ocupar o cargo. No final de 2020, a narradora fez história mais uma vez, ao ser a primeira mulher na história do grupo Globo contratada para a função.

A estreia dela foi ao lado da também jornalista esportiva e xará, Renata Mendonça. Silveira atuou como comentarista em um jogo de futebol com visibilidade significativa, na modalidade masculina, disputado pela Copa do Brasil 2021 entre Moto Club (MA) e Botafogo (RJ), no dia 10 de março. Os canais Fox Sports, em contrapartida, contrataram a jovem jornalista Natália Lara para seu quadro de narradores, mas não para ser coadjuvante ou transmitir jogos de pouca visibilidade, ela também integrará o time principal ao lado de grandes nomes da emissora.

O machismo tão enraizado (e estrutural), quanto escancarado, em paralelo com a falta de respeito e toxicidade de determinados julgamentos – são colocados ou taxados de “comentários sinceros”, “forma de expressar uma opinião”, ou “emitir uma crítica construtiva, com todo o respeito” -, causa situações árduas que, nós, mulheres, ainda precisamos enfrentar.

Isso, sem mencionar os constantes constrangimentos e preconceito de homens que ainda se julgam melhores e mais entendidos no assunto simplesmente por não aceitarem que as mulheres também podem e devem ter lugar de fala no esporte – aliás, muitas mulheres são mais entendidas que muito homem por aí!

A representatividade feminina hoje é indiscutível e, apesar de mais “sutil” do que na época de Regiani Ritter (há cerca de quatro décadas), o desrespeito e a ignorância de muitos, bastante dolorosos, as mulheres ainda continuam na luta por um espaço cada vez maior e mais igualitário.

Conquistas cada vez mais importantes guiam oportunidades e caminhos mais abertos às gerações futuras. Assim são vistas as mulheres que marcaram história nas últimas décadas e as que hoje seguem seus exemplos de ideologia, opiniões e compartilham do modo de pensar que mulher precisa, sim, ter seu lugar de fala e atuação.

Portanto, não vejo possibilidade em falar de representatividade feminina no jornalismo esportivo, nas mais variadas funções, como narração, comentários, reportagem de campo ou como setoristas dos grandes clubes de futebol, sem mencionar, também, grandes exemplos de mulheres inspiradoras que nos representam dentro das quatro linhas. Mulheres estas, que são corajosas o suficiente para lutar por espaço e respeito em um ambiente tão tóxico, machista e desrespeitoso quanto o futebol.

Destaco, em especial, a geração Marta na modalidade feminina do futebol, a Edna Alves, única mulher a comandar o quarteto de arbitragem no Brasileirão de futebol masculino, e as narradoras de rádio, representadas pela Isabelly Morais, a primeira mulher a narrar futebol em Minas, na Rádio Inconfidência. Não importa se são atletas, estão no quadro de arbitragem ou jornalismo esportivo: lugar de mulher é onde ela quiser!



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