Você precisa escolher um lado?

Geração Z ou Millenium, Direita ou Esquerda, Lula ou Bolsonaro? Entenda como a incessante necessidade de opinar sobre tudo afetou o cenário brasileiro

Por Amanda Ferreira

Historicamente, nas antigas civilizações, existia uma necessidade de escolher um lado para adquirir confiança de determinado grupo. Isso surgiu em nome da sobrevivência, pois com a ajuda de companheiros, era mais fácil conseguir alimento, se proteger de predadores e enfrentar situações desafiadoras.

A grande questão é: ser inserido e se sentir incluído, muitas vezes, acarreta abrir mão da própria individualidade para aceitar normas, crenças e ideais do grupo. Afinal, em um mundo como o que nossos antepassados vivenciaram, a lealdade era mais importante do que analisar fatos de modo crítico e independente e, como seres humanos, evoluímos por meio de comportamentos que aumentassem nossas chances de sobrevivência. E entre sobreviver e buscar a verdade, nosso instinto quase sempre escolhe a primeira opção.

Podemos dizer que naturalmente estamos “programados” para encontrar uma turma, se adaptar a ela e fazer dela parte da nossa identidade. Sentimos conforto ao agir dessa forma, enquanto mudar de ideia e se opor ao grupo com o qual nos identificamos é extremamente incômodo.

Mas, naquela época fazia sentido, era uma questão de vida ou morte. Hoje em dia, isso deixou de ser uma necessidade para se tornar opção.

O que é uma sociedade polarizada?

O significado de polarização refere-se a extremos opostos. É a divisão de dois polos sobre determinado tema, que pode ter a ver com pensamentos de um indivíduo ou grupo e está quase sempre atrelada a questões políticas, sociais ou religiosas.

Ao definir um posicionamento nessa polarização, nos isolamos de toda e qualquer opinião diferente da que acreditamos ser a correta. Com isso, as pessoas têm se tornado incapazes de compreender o outro e analisar o mundo com mais clareza e sensatez.

Uma sociedade polarizada é algo muito mais complexo do que parece ser e tem suas raízes na psique humana.

O Raciocínio Motivado

Temos uma tendência inconsciente de darmos mais valor a conteúdos que confirmem nossas opiniões e concepções sobre um tema e a fazer pouco caso de informações contrárias.

É um processo quase automático e involuntário. Envolve o esforço ativo em encontrar conteúdos que validem nossa posição e pessoas que nos apoiem, que estejam do mesmo lado. Já parou para refletir que quando precisamos de um conselho, procuramos aqueles que sabemos que vão nos dizer: “Você está certo”?

A era digital instiga ainda mais esse comportamento. As redes sociais contribuem para que exista essa obrigatoriedade de se posicionar, motivada pelo discurso de ódio praticado pelo “tribunal online”, que julga e condena aqueles que pensam de forma diferente da maioria, ou até mesmo aqueles que escolhem não opinar.

Quem procura se manter fora desses dois grupos, apresentando outras ideias e pontos de vista, ou mesmo quem defende que ambos os lados têm seus equívocos e virtudes, é tratado como “neutro”.

Assim, a população deixa de se tornar peça chave em busca de justiça e garantia de direitos para aguçar as rixas e construir um efeito manada generalizado.

Como as redes sociais aguçam esse cenário?

Uma das consequências mais comuns geradas pela polarização são as Fake News. As notícias falsas, pensadas intencionalmente para desinformar a população e causar confusão, são produzidas com um único objetivo: converter.

Divulgadas de modo massivo na internet, as Fake News assumem diversos formatos para persuadir o público alvo. Existem desde as mais elaboradas, desenvolvidas a partir da adaptação de uma identidade visual de um jornal ou portal de notícias para atribuir a ele uma reportagem que não é de sua autoria, até as espalhadas por textos e vídeos compartilhados no WhatsApp.

Dessa forma, comunidades carentes, idosos e aqueles que não possuem acesso à educação e informação de qualidade caem em uma teia infindável de mentiras que nos levam a colocar candidatos nada preparados no poder.

Uma ameaça a democracia

Aos poucos se perde o senso crítico, e é cada vez mais comum aceitarmos radicalismos. A falta de diálogo e vontade de ouvir o outro, torna o indivíduo mais maleável a manipulação e mais pobre intelectualmente, uma vez que seguir posicionamentos é mais fácil e cômodo, do que buscar novos conhecimentos e fazer análises através de estudos e debates saudáveis.

Vivemos numa sociedade em que não podemos nos expressar livremente, com medo de represálias e julgamentos. O excesso de polarização compromete os princípios da democracia, que se baseiam na igualdade e liberdade, estes compostos por tolerância e diálogo. E quando nos concentramos em dois lados radicalizados, adversários são vistos como inimigos e chegar a um denominador comum, parece longe de ser realidade.



0 0 votes
Article Rating
Subscribe
Notify of
guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments