O consumidor do futuro chegou

Influenciados pelo período histórico, relações pessoais e crenças, todas as gerações estão em constante mudança na hora de consumir

Por Jéssica Hellen, Letícia Sudan e Napáuria Almeida

Quais comportamentos das antigas gerações serão preservados para o consumidor de 2022? A previsão, de acordo com a WGSN (Worth Global Style Network), empresa que se apresenta como uma autoridade global em tendências de consumo na atualidade, é que a auto aceitação será um fator importante na hora de consumir. Ou seja, a influência de consumir por idealização – característica da geração millennials – pode não existir mais.

O dossiê das gerações da Rock Content explica que, a cada ano, surgem novos estudos sobre o comportamento, interesses e motivações de jovens para  entender  as  necessidades  desse  público.  Contudo,  esses  estudos não perdem de vista os adultos e idosos – geração X e baby boomers – que também possuem grande representatividade no mercado consumidor. Mas,  antes  de  conhecermos  as  características  de  cada  geração,  é importante saber por quais marcos da história mundial cada uma passou. Clique aqui e assista ao vídeo com os relatos do que cada geração viu:

FATORES DE INFLUÊNCIA

Toda geração tem um ímpeto interior que a leva a consumir. E cada uma delas possui também seu próprio comportamento influenciado por fatores como suas vontades individuais e suas relações sociais. Segundo Rachel Patrocínio,  especialista  em  comportamento  do  consumidor,  há  quatro fatores  que  influenciam  na  jornada  de  compra:  sociais,  psicológicos, culturais e pessoais.

“No  que  diz  respeito  aos  fatores  sociais,  é  importante  a  gente  lembrar que as pessoas gostam de se sentir inseridas em um grupo, e acaba que o  consumo  de  alguns  produtos  reforça  um  pouco  essas  características de pertencimento. Com a internet, o consumidor digital, a gente observa que  os  grupos  de  referência  e  a  influência  que  esses  grupos  exercem fica  infinitamente  maior,  por  isso  que  a  gente  tem,  hoje,  a  profissão  de influenciador digital. Os fatores psicológicos são as motivações emocionais e sensoriais que são despertadas no consumidor e que farão com que eles criem ou não vínculos com as marcas. O fator cultural faz toda a diferença, é o tipo de crença que a gente tem. E têm também os fatores pessoais e características que dizem respeito sobre como a própria pessoa vai agir, os hábitos únicos que essas pessoas têm, os hábitos individuais que essas pessoas  têm.  E  essas  questões,  como  idade,  sexo,  ocupação,  estilo  de  vida, personalidade, também impactam”, detalha Rachel

A   tecnologia,   claro,   tem   grande   influência   no   comportamento   do  consumidor. Juliana Lopes de Almeida, especialista em marketing, explica que, apesar  disso,  não  é  ela  que  determina  em  si  o  comportamento  de consumo.  “A  tecnologia  sempre  influenciou  em  todos  os  contextos  da humanidade.  Mas  não  é  uma  tecnologia  que,  de  fato,  será  determinante para  a  tomada  de  decisão  por  uma  compra.  Vai  além  da  tecnologia,  se formos pensar em internet e outros meios de comunicação, tendo em vista que as preferências dos consumidores são determinantes para influenciar a  escolha  entre  um  produto  ou  outro,  ou  mesmo  entre  uma  marca  e outra”.

https://soundcloud.com/cacauunibh/jornal-impressao-ed-215-o-consumidor-do-futuro-chegou

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OS BABY BOOMERS

Nascidos entre 1940 e 1960, os baby boomers são da geração que viu desde a guerra do Vietnã até a transição da televisão preta e branca para a televisão em cores. Entretanto, apesar de terem presenciado a evolução tecnológica, possuem um comportamento mais tradicional, preferindo os hábitos antigos, como as ligações pelo telefone.

Em  relação  a  carreira,  essa  geração  preza  por  estabilidade,  preferindo continuar  na  mesma  empresa  por  muitos  anos,  a  fim  de  crescerem profissionalmente e se recusando a trocar de organização com facilidade. Porém, isso não quer dizer que eles não usam as redes sociais atualmente, mas apenas priorizam seu uso por necessidade e busca de informações. As redes sociais que mais utilizam são o Facebook e o LinkedIn. Em relação ao consumo, a WGSN afirma que os baby boomers procuram marcas que sejam  tradicionais,  pois  eles  não  estão  dispostos  a  experimentar  novas  marcas.  Essa  geração  é  facilmente  influenciada  pela  mídia  na  hora  de consumir, por isso, tendem a serem consumistas e a comprarem imóveis e carros.

GERAÇÃO X

A  geração  X  é  formada  pelas  pessoas  que  nasceram  entre  1961  e 1980, e presenciaram desde o golpe militar de 1964 até o surgimento do computador, celular e internet. Assim como os baby boomers, a geração X também preza pela estabilidade e busca crescimento profissional. Contudo, essa geração tende a pensar mais nas tomadas de decisões. A WGSN disse que as pessoas dessa geração tiveram que aprender a usar a internet, e suas redes sociais mais utilizadas são o Facebook e o WhatsApp. Entretanto, até hoje, eles também utilizam os meios offline na hora de consumir informações. Possuem perfil competitivo e empreendedor, mas ainda assim são resistentes a mudanças. Essa geração é leal às marcas que consome e não se preocupa em pagar mais por isso. São movidos a status e luxo e, diferentemente dos baby boomers, não são influenciados pela mídia, se importando mais com a opinião das pessoas próximas.

OS MILLENNIALS

Conhecida também como millennials, a geração Y denomina todos os que nasceram entre 1981 e 1995. Historicamente, presenciaram desde o desastre atômico de Pripyat até a popularização da internet. Ao contrário das gerações citadas acima, essa está mais aberta a assumir riscos. Em relação ao trabalho, valorizam a empresa, mas não têm receio de aceitar oportunidades melhores. Além disso, prezam por trabalhos que lhe trazem satisfação, procurando por atividades que gostam de realizar. Ainda  sobre  a  carreira,  segundo  a  WGSN,  a  geração  Y  possui  um perfil inovador e criativo, mantém o uso do LinkedIn, porém também usa

Instagram, Twitter e TikTok. Estando mais presentes no meio digital, eles adoram  compartilhar  suas  experiências  e  tendem  a  substituir  compras  físicas pelo online. 

Na hora de consumir, procuram por marcas que demonstram os mesmos valores que eles, entretanto, demonstram mais lealdade aos influenciadores do  que  às próprias  marcas.  Por  serem  imediatistas,  esperam  que  as empresas antecipem suas necessidades e que mostram novidades, já que não  possuem  receio  do  novo.  Possuem  maior  senso  crítico  em  relação às  gerações  anteriores  e,  na  hora  de  decidir  o  que  consumir,  levam  em consideração  fotos  de  redes  sociais,  indicação  de  amigos  e  fóruns  de opiniões.  Não  possuem  receio  de  lojas online e  prezam  por  entregas rápidas, levando em consideração a personalização e experiências que as marcas têm a lhes oferecer.

GERAÇÃO Z

Formada por pessoas nascidas entre 1996 e 2010, a geração Z vivenciou o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001 e o avanço tecnológico da realidade virtual e aumentada. Apesar de já serem nativos na internet, presenciaram  a  migração  do  computador  pessoal  para  o mobile,  o  que consequentemente os fazem consumir mais internet do que as gerações anteriores. Gostam ainda mais do que a geração Y de expor a sua opinião, pode-se dizer que, na verdade, eles têm essa necessidade.

De  acordo  com  a  WGSN,  a  geração  Z  busca  por  autenticidade,  são criativos, realistas e independentes. Carregam a característica da geração anterior  (geração  Y)  de  se  preocuparem  com  sustentabilidade,  porém as  preocupações  são  maiores  e,  com  isso,  se  importam  também  com o  ecossistema  e  os  recursos  naturais.  Essa  geração  está  totalmente multiconectada, ou seja, navegam pela internet por mais de uma tela ao mesmo tempo, preferem redes sociais visuais, como o Instagram, TikTok e YouTube, mas ainda mantêm o WhatsApp como uma rede de comunicação.

Em relação à carreira, a geração Z está desapegada e busca por um rápido crescimento  profissional.  Possuem  facilidade  de  adotar  o home  office, detestam burocracias e querem fazer parte de organizações que admiram e  proporcionarão  orgulho.  Essa  geração  é  muito  autodidata  e,  por  isso, aprendem  muito  por  conta  própria  através  da  internet,  escolhendo  mais conteúdos  em  audiovisual.  Na  hora  de  consumir,  prezam  por  marcas realistas, autênticas e que possuem responsabilidade social. Gostam de manter contato com as marcas que admiram, e por isso sempre expressam suas opiniões em relação a elas.

FUTURO ALPHA

A  geração alpha são  os  nascidos  a  partir  de  2010.  Por  ainda  serem crianças,  não  estão  totalmente  imersos  nas  redes  sociais,  mas  já  fazem o  uso  do YouTube.  Essa  geração,  de  acordo  com  a  WGSN,  é  movida por estímulos sensoriais, possui muita facilidade com a tecnologia e com adaptação no geral. Consomem informações através do streaming, realidade virtual, realidade aumentada e gamificação. Não sentem dificuldade com o ensino online, porém gostam de aprender através da experiência.

Eles  ainda  não  são  os  decisores  no  consumo,  mas  a  tendência  é  que continuem se importando com a inclusão social e os valores que a marca apresenta. Além disso, as características de personalização, facilidade e rapidez apresentadas pela geração Z tendem a continuar.

Por Matheus Rocha

 

COMO SERÁ O CONSUMIDOR DE 2022?

De acordo com o relatório Internet of Things, publicado pela Ericsson em 2019, a sociedade conectada se estabelecerá em 2022, quando teremos cerca  de  29  bilhões  de  dispositivos  conectados  na  internet  em  escala global, número que representa 3 vezes a população humana. Mas essas mudanças tecnológicas causarão impacto em nossas vidas. A pesquisa realizada pela WGSN faz uma previsão anual sobre o consumidor do futuro e analisa a macroeconomia e os propulsores sociais, mostrando quais serão os desejos do consumidor e o novo conceito de poder de compra. A pesquisa também aponta os quatro principais sentimentos do consumidor que impactarão nos hábitos de consumo: o medo, a dessincronização social, a  resiliência  equitativa  e  o  otimismo  radical.  Esses  propulsores  resultam em três perfis de consumidores: os estabilizadores, os comunitários e os novos otimistas.

Os consumidores do futuro considerados estabilizadores são formados pelas  gerações  Y  e  Z.  As  preocupações  com  o  ecossistema  tendem  a aumentar  e,  por  consequência  da  produtividade  e  incerteza  ambiental, esses  consumidores  estarão  em  busca  da  auto aceitação  e  estabilidade emocional. Outro fator que influencia é o excesso do digital, pois através dele o contágio emocional se torna constante e as incertezas, ansiedades e  exaustões  acabam  sendo  compartilhadas  em  nível  extremo.  Uma  das 

características  predominantes  do  consumidor  de  2022  é  justamente a  fusão  da  busca  por  aperfeiçoamento  e  a  conformidade  pelas  coisas como elas são. Isso é chamado de aceitação radical, resultado de um auto aperfeiçoamento excessivo, que na prática acaba trazendo consequências opostas, como a baixa autoestima.

“A mudança de comportamento do consumidor ocorre com base nas gerações e alterações econômicas, políticas, sociais e tecnológicas no contexto da vivência em sociedade. Essa mudança tem como princípio a compreensão do que consumimos, qual a frequência desse consumo e na maneira como criamos consciência sobre o que é importante para o indivíduo (necessidades e desejos) e para a sociedade”, explica Juliana Lopes de Almeida, especialista em marketing.

Historicamente,  esses  consumidores  presenciaram  uma  pandemia,  por isso esse processo de questionamento e aceitação pode ter sido acelerado. A relação entre marca e consumidor deverá se manter semelhante à mesma relação que a geração Z possui, assim como o sentimento que os leva a consumir.  “O  sentimento  de  pertencimento,  de  se  sentir  junto  à  marca, como um co-participante do processo”, afirma Juliana. A especialista ainda explica que o perfil do consumidor de 2022 será parecido com o ano atual, acreditando que poucas mudanças ocorrerão em 2 anos. Uma  tendência  é  que  o  consumidor  do  futuro  continue  se  importando com  as  marcas  que  consome,  a  compra online se  manterá  e  a  opinião das  pessoas  ainda  será  um  fator  relevante  na  decisão.  “Será  como  é 

atualmente, uma relação afetiva, de brand lovers, de defensores da marca porque  acreditam  no  propósito  da  marca  ou  mesmo  no  posicionamento dela”, afirma a especialista.
Rachel Patrocínio, especialista em marketing / Foto: arquivo pessoal

Sobre  o  perfil  do  consumidor  futuro,  Juliana  ainda  reflete:  “Em  2  anos, acredito  que  pouca  coisa  irá  mudar.  Tendo  em  vista  as  mudanças  por gerações, que ocorrem de 30 em 30 anos, ou mesmo quando ocorrem de 15 em 15 anos (no máximo), a gente ainda tem muita coisa para, de fato, ter alterações na maneira como consumimos. O perfil do consumidor de 2022 é aquele que se preocupa com a marca que escolhe para comprar o  produto  ou  serviço,  que  procura  investir  em  algo  que  tenha  benefício, que prefere compras online, que compara preços   de   marcas   concorrentes,   que   pesquisa  mediante  avaliações  de  outras pessoas para tomar a decisão da compra”. Rachel  Patrocínio,  também  especialista em  marketing,  concorda  que  a  tendência para  2022  é  que  a  necessidade  de  se sentir próximo da marca ainda prevalecerá. “O  consumidor,  de  modo  geral,  espera ações  verdadeiras  e  eles  precisam  se sentir  representados  pela  marca  e  o  que elas acreditam, pelo seu propósito e pelo seu próprio DNA de marca”. Ou seja, estes consumidores ainda contarão com os serviços e produtos personalizados. Rachel diz que o consumo por mobile e da jornada omnichannel

também é algo que podemos esperar. A especialista explica como funciona este comportamento:  “Não  existe  mais  hoje  uma  jornada  de  compra  linear,  a compra  acaba  passando  por  vários  canais,  e  sofrendo  muita  influência tanto online quanto offline. Então existe uma constante movimentação do consumidor  entre  esses  canais.  Ele  [o  consumidor]  está  lendo  o  e-mail marketing que a empresa mandou, ele está na rede social acompanhando a marca, ele está na rede social acompanhando o influenciador digital que é embaixador da marca”. Outro  comportamento  que  deverá  se  manter  é  a  preocupação  com  a sustentabilidade,  a  expectativa  é  de  que  os  consumidores  continuem policiando  as  marcas  no  quesito  de  responsabilidade  social.  Com  isso,  podemos  ressaltar  mais  uma  vez  como  o  consumidor  preza  por  marcas que o representem e os valores que elas possuem. Ainda continuarão com o comportamento imediatista e Rachel explica que, por isso, pesquisas por voz e geolocalização são propensão. “As pesquisas têm crescido muito nas buscas “perto de mim”, “próximo a mim”, e existem muitas comunicações também no sentido do”eu” ,”estar perto de mim”, o tempo inteiro. Essas buscas por voz, na verdade, estão se tornando quase que diálogos entre o consumidor e a marca”.

Por Matheus Rocha

 

 



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